Protegido de Le Pen já é líder oficial do partido de extrema-direita

Marine Le Pen quer concentrar-se no trabalho parlamentar, agora que o seu partido tem a maior bancada de sempre na Assembleia Nacional. Em simultâneo, preparará mais uma campanha presidencial.

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A até agora líder e o recém-eleito CHRISTIAN HARTMANN/Reuters

Sem qualquer surpresa, o eurodeputado Jordan Bardella, de 27 anos, foi eleito este sábado para a presidência da União Nacional, o partido de Marine Le Pen, que pela primeira vez não será liderado por um membro da família fundadora. “O 18.º congresso do FN/RN traz as maiores esperanças para o nosso país, enquanto há tempo. Bravo a Jordan, pensamentos nacionais para Marine”, reagiu no Twitter o homem que lançou o partido (antes chamado Frente Nacional) em 1972, o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen.

Bardella, que já assegurava a presidência interina há um ano, somou 84,84% dos votos. O derrotado foi Louis Aliot, presidente da Câmara de Perpignan, que obteve 15,16%. A votar foram chamados os 40 mil militantes que o partido de extrema-direita diz ter. O resultado foi anunciado pela própria Le Pen, na convenção extraordinária que assinala os 50 anos do partido.

O protegido de Marine Le Pen, que agora a substitui, entrou na formação quando era adolescente e teve uma ascensão fulgurante: aos 19 anos, já era membro do conselho regional de Île de France, que engloba Paris; em 2017, foi convidado por Le Pen para ser o porta-voz do partido; em 2019, foi cabeça de lista nas eleições europeias, com o partido a sair vencedor.

Com posições mais anti-imigração do que Le Pen, em Fevereiro, Bardella descreveu Trappes, cidade com uma grande população imigrante nos subúrbios da capital, como uma “República islâmica” dentro de França. E no final de Setembro, em reacção às legislativas italianas, disse que a vitória de Giorgia Meloni (de extrema-direita) é “uma lição de humildade para a União Europeia”, acusando Bruxelas de ter tentado influenciar as eleições. “Nenhuma ameaça pode parar a democracia”, afirmou o político francês.

Dirigindo-se à convenção, Le Pen afirmou que, mais de uma década depois (assumiu a liderança em 2011), é tempo de dar lugar a alguém novo. Mas a verdade é que Le Pen, que se quer concentrar na actividade parlamentar – em Junho, o partido elegeu 89 deputados, o seu melhor resultado de sempre –, ao mesmo tempo que prepara uma nova candidatura à presidência (2027), vai manter um poder significativo.

“Não estou a deixar o RN [Rassemblement national] para ir de férias. Vou estar onde o país precisa de mim”, disse ainda Le Pen aos militantes.

Como nota o diário Le Monde, esta “esperada entronização”, assim como a normalização em curso da União Nacional, acabou por ser perturbada pelo caso do deputado do partido que foi suspenso da Assembleia Nacional por um comentário racista.

Foi na quinta-feira que Grégoire de Fournas gritou “Que volte para África” ou “regresse a África” durante a intervenção do deputado negro Carlos Martens Bilongo (LFI, esquerda radical), quando este questionava o Governo sobre um pedido de ajuda de uma organização que resgata pessoas no Mediterrâneo. Já na sexta-feira, Fournas ficou proibido de entrar no Parlamento durante 15 dias, com o Gabinete da Assembleia a decidir puni-lo por “manifestações que perturbam a ordem ou provocam tumultos”.

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