Bombardeiro supersónico dos EUA sobrevoa Coreia do Sul em demonstração de força contra Pyongyang

Coreia do Norte disparou dezenas de mísseis esta semana. Washington vai “aumentar a mobilização de activos estratégicos” na Península Coreana.

Foto
Lloyd Austin e Lee Jong-sup numa visita a uma base militar no estado de Maryland, na quinta-feira EPA/South Korean Defense Ministry

Pelo menos um bombardeiro supersónico (B-1B) participou no último dia dos exercícios aéreos conjuntos dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, os maiores de sempre entre os dois aliados. A operação Tempestade Vigilante foi pensada como resposta às acções da Coreia do Norte, que nos últimos meses tem disparado vários mísseis balísticos e realizado inúmeros ensaios de mísseis de curto alcance (dezenas só esta semana), incluindo aquele que na quarta-feira cruzou a fronteira marítima com a Coreia do Sul, pela primeira vez desde o armistício que suspendeu a Guerra da Coreia, em 1953.

Um dia depois do lançamento que Seul descreveu como “uma invasão territorial de facto”, Pyongyang testou quatro mísseis balísticos, incluindo um que a Coreia do Sul disse ser do modelo Hwasong-17 – um sistema de míssil intercontinental (ICMB) com um alcance estimado de 13 mil quilómetros que terá capacidade para transportar ogivas nucleares. Foi por causa desse disparo que Washington e Seul prolongaram os exercícios aéreos até este sábado.

Os mísseis balísticos disparados por Pyongyang na quinta-feira levaram o Governo do Japão a ordenar à população de três prefeituras que procurasse abrigo, avisando que um dos projécteis sobrevoara o território. No início de Outubro, um míssil norte-coreano sobrevoou o Japão pela primeira vez em cinco anos – dessa vez, o pedido para as populações se abrigarem em edifícios ou subterrâneos foi feito em toda a região Norte do país, levando ainda à suspensão dos comboios.

Já na sexta-feira, a Coreia do Norte disparou mais quatro mísseis balísticos de curto alcance que aterraram no mar e mobilizou ainda “cerca de 180 aviões de combate”, de acordo com o Estado Maior Interarmas de Seul. Isso levou a Coreia do Sul a “mobilizar 80 caças, incluindo F-35A” (aviões furtivos), colocando ainda os aviões envolvidos nos exercícios militares com os EUA “prontos” a descolar.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros norte-coreano referiu-se, entretanto, às suas acções militares dos últimos dias como uma resposta apropriada ao que chama a “histeria de confrontação militar” dos EUA, descrevendo a decisão de prolongar as manobras aéreas como “uma escolha muito perigosa e errada”. O exercício envolveu cerca de 240 aviões, incluindo estes caças F-35 – sul-coreanos e também norte-americanos – avançados.

O jogo de nervos na região tem subido de tom ao longo das últimas semanas, com Seul, Washington e Tóquio a anteciparem um eventual ensaio nuclear da Coreia do Norte, que seria o primeiro desde 2017. Muitos dos passos dados na altura têm-se repetido este ano: no fim de Setembro, em resposta à “ameaça crescente” do Norte, Japão, Estados Unidos e Coreia do Sul realizaram exercícios navais conjuntos pela primeira vez em cinco anos. Após esses exercícios, em 2017, a Coreia do Norte disparou dois mísseis sobre o Japão – uma semana depois, seguiu-se um teste nuclear.

Foi também em 2017 que os B-1B sobrevoaram a região pela última vez. Os EUA informaram recentemente que mantinham quatro destes bombardeiros desde o fim de Outubro em Guam, a pequena ilha do Pacífico onde Washington tem várias bases militares e alguns milhares de Marines.

A propósito da escalada que representou o míssil que sobrevoou o Japão (e tendo em conta o temor de um ensaio nuclear), Ankit Panda, do Programa de Política Nuclear do think tank Carnegie Endowment for International Peace, admitiu à CNN que os EUA, a Coreia do Sul e o Japão tenham visto este lançamento como uma forma de Pyongyang “mostrar a sua capacidade de atacar com armas nucleares alvos que incluem o território norte-americano de Guam”.

Na quinta-feira, depois de conversações nos EUA com o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, o ministro da Defesa sul-coreano, Lee Jong-sup, anunciou que a Casa Branca concordou em “aumentar a frequência e a intensidade da mobilização de activos estratégicos dentro e em volta” da Península Coreana, a um nível “equivalente a uma mobilização constante”.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários