Passos reage a Marcelo: “Seria tolice dizer que nunca mais na vida faço coisa nenhuma”

O ex-primeiro-ministro garante que não pensa “regressar a espaços políticos”, no entanto recorre à máxima de que nunca se devem fechar portas para deixar em aberto um regresso à vida política.

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Pedro Passos Coelho, 58 anos, foi primeiro-ministro de 2011 a 2015 Nuno Ferreira Santos

Tardou quase três semanas mas chegou. Pedro Passos Coelho respondeu ao repto lançado pelo Presidente da República, e mimetizado por Luís Montenegro e Carlos Moedas, para que o antigo primeiro-ministro regresse à vida política activa, garantindo que não está a pensar nisso e logo salvaguardando que nunca se deve dizer nunca.

Esta quinta-feira, à margem de uma conferência relacionada com o Serviço Nacional de Saúde e que decorreu à porta fechada, Passos Coelho começou por ser questionado pelos jornalistas sobre o desafio feito por Marcelo Rebelo de Sousa: “Não tenciono regressar a espaços políticos”, afirmou, em declarações citadas pela CNN Portugal.

Todavia, perante a insistência dos jornalistas, o antigo presidente do PSD recorreu à máxima de que não se deve dizer “desta água não beberei”. “Não há nenhuma razão para eu dizer que nunca mais na vida faço coisa nenhuma, seria uma tolice, seria um absurdo. Mas não, não estou a pensar em coisa nenhuma”, respondeu à CNN Portugal, acrescentando que nesta fase está “muito fora de tudo” e assim pretende “continuar”.

Nestas parcas declarações, Passos Coelho manteve o estilo reservado que vem assumindo desde que, no início de 2018, deixou a liderança social-democrata. Mas seja como for, e apesar de reforçar a ideia de que nesta altura não contempla um regresso à política, Passos também não fechou a porta.

A 15 de Outubro, o Presidente da República afirmou, durante uma homenagem a Agustina Bessa-Luís em que também estava Passos Coelho, que “sendo tão novo, o país pode esperar, deve esperar muito ainda do seu contributo no futuro, não tenho dúvidas”.

“O país deve, num período muito difícil de crise na troika, ao primeiro-ministro Passos Coelho, uma resistência, que ainda há dois dias pude ouvir ser elogiada pela boca da então chanceler Angela Merkel. Portanto, é reconhecida cá dentro e reconhecida lá fora, é um facto”, disse então Marcelo.

As declarações do Presidente foram feitas naquele que será o período mais difícil desde que Marcelo chegou a Belém devido à chuva de críticas de que foi alvo na sequência das suas afirmações equívocas a propósito do número de casos de abusos sexuais pela Igreja. E, como tal, interpretadas como uma forma de mudar o foco mediático para uma hipotética futura candidatura presidencial de Passos Coelho — hipótese, aliás, muitas vezes falada nos últimos anos —, precisamente o homem que se referiu indirectamente a Marcelo, defendendo o não apoio à sua candidatura presidencial, como um “cata-vento mediático”.

Certo é que dois dias depois das afirmações do chefe de Estado era Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa e que integrou o executivo de Passos, a defender que “um homem extraordinário” que “foi um grande primeiro-ministro” ainda “pode continuar a contribuir” para Portugal.

No dia seguinte, foi Luís Montenegro, actual presidente do PSD e ex-líder da bancada parlamentar social-democrata durante a governação liderada por Passos Coelho, a afirmar que o antigo líder é “uma das pessoas mais qualificadas” do país e que, portanto, ainda “tem muito para dar” a Portugal.

Montenegro disse ainda considerar que, tendo em conta a sua própria opinião sobre Passos, “não pode deixar de concordar com a ideia generalizada de que ele tem muito para dar ao país”.

Com eleições presidenciais apenas em 2026, a resposta quanto à real intenção de Passos está noutra velha máxima popular: só o tempo dirá.

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