As horas dos directores

Estes líderes devem ser apoiados no seu desenvolvimento para conseguirem delegar, descentralizar, simplificar, criar e potenciar colaboração.

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"Um director de escola é um líder e não um gestor ou um técnico" Daniel Rocha/Arquivo

O relatório da OCDE deste ano mostra-nos inúmeros assuntos sobre os quais podemos reflectir, tais como: a diferença de género nas entradas para cursos superiores de engenharia ou saúde e na conclusão dos mesmos, o investimento do Estado nos diferentes níveis de educação, a relação da educação com o nível social e económico e entre muitos outros aspectos, os diferentes “braços” necessários aos directores de escolas.

Na realidade, os directores das escolas além de serem professores e terem de preparar e planificar as suas aulas como qualquer outro professor, ainda protagonizam sozinhos ou em equipa uma actividade verdadeiramente avassaladora. Se não vejamos: corrigir e avaliar os trabalhos dos seus alunos, comunicar e cooperar com os pais/encarregados de educação ou tutores dos alunos, trabalhar em equipa e em grupos de trabalho com os outros professores, participar em actividades de desenvolvimento profissional, trabalho administrativo, fazer supervisão de alunos nas pausas lectivas, fazer aconselhamento de alunos, participar na gestão da escola e em alguns casos ser responsável pela gestão da escola, ser mentores ou participar nos programas de indução de novos professores, organizar actividades de enriquecimento curricular e ainda responsabilizar-se e desempenhar muitas outras tarefas.

Fico sem fôlego só de ter interpretado o gráfico do relatório da OCDE onde estas tarefas são explicitadas e de me consciencializar do dia-a-dia tão vasto e preenchido de um director de escola.

Na realidade, estes líderes devem ser apoiados no seu desenvolvimento para conseguirem delegar, descentralizar, simplificar, criar e potenciar colaboração. Serão certamente mais horas do que as previstas no contrato de trabalho para que todas estas actividades consigam ser realizadas de forma eficaz. Para que consigam ter um trabalho eficiente precisam, como qualquer outra pessoa, de processos desenvolvidos com a ajuda facilitadora da tecnologia e com a capacidade de criar e desenvolver equipas colaborativas alinhadas para o mesmo fim, que será o propósito da escola.

Os directores de escola estão normalmente sozinhos com os coordenadores de ciclo, que também têm as suas aulas, alunos, pais, planificações, preparação de aulas e de recursos.

Um director de escola é um líder e não um gestor ou um técnico. Necessita de desenvolver o seu potencial de compromisso, de conseguir comprometer os outros com o trabalho a desenvolver e não ‘apenas’ gerir os recursos sejam eles humanos ou materiais e tecnológicos. Precisa de ser inspirador, mentor e modelo.

O relatório da OCDE fala ainda nas horas de trabalho de cada professor por ciclo, por país. Acresce a estas horas, para muitos directores, todas as tarefas decisórias, organizacionais, operacionais, de supervisão pedagógica e administrativa que uma escola necessita para ser um contexto de aprendizagem e crescimento feliz para quem lá vai, vive e serve os outros.

Só mesmo criando espaços de interdependência, de colaboração eficaz e de autonomia, responsabilidade e confiança, conseguem desenvolver comunidades saudáveis.

Por aqui se vê bem que as escolas devem ser espaços onde trabalhamos uns com os outros, onde todos têm a sua voz, onde conta ter opinião e saber pensar. Onde todos aprendemos e queremos aprender a fazer melhor e diferente, adequando procedimentos antigos a novos contextos e circunstâncias, criando assim, inovação e desenvolvimento.

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