Varíola-dos-macacos pode ser transmitida antes dos primeiros sintomas

A possibilidade de transmissão antes dos primeiros sintomas já estava em cima da mesa, sendo reforçada por um novo estudo com 3000 pacientes no Reino Unido.

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Desde o início do ano, já foram registados quase 80.000 casos de varíola-dos-macacos, com 36 mortes associadas à doença DADO RUVIC/REUTERS

O vírus da varíola-dos-macacos é frequentemente transmitido antes que os primeiros sintomas apareçam, aponta um estudo publicado esta quarta-feira, cujos resultados ainda não foram confirmados por outros estudos, mas que pode desempenhar um papel importante para gerir o surto de infecções.

A transmissão pré-sintomática de varíola-dos-macacos (VMPX, ou monkeypox), cujos sintomas são caracterizados principalmente por erupções cutâneas, parece “considerável”, segundo os autores deste estudo publicado na revista British Medical Journal.

Este trabalho foi realizado no Reino Unido, o primeiro país onde o vírus não está habitualmente presente a comunicar casos confirmados de infecção. Desde a Primavera que surgiram muitos casos de VMPX na Europa, incluindo em Portugal e no continente americano, sendo que até então o vírus estava presente principalmente em vários países africanos.

Embora este surto, que atingiu quase 80.000 pessoas e causou 36 mortes, pareça estar actualmente a diminuir, as autoridades de saúde permanecem vigilantes. Para isso, é importante conhecer o risco de transmissão “silenciosa”, ou seja, durante o período de incubação e antes de o paciente ter os primeiros sintomas.

Os autores do estudo, liderado pelo epidemiologista Thomas Ward, tentaram responder a essa pergunta examinando dados de quase 3000 pacientes britânicos.

Tal como acontece com o surto actual como um todo, os casos são principalmente identificados entre homens que tiveram relações com outros homens.

A investigação permitiu ter uma ideia sobre dois tipos de “atraso” e compará-los entre si. O primeiro é o tempo de incubação, durante o qual o paciente carrega o vírus sem saber e o segundo é o tempo que decorre desde o início dos sintomas num determinado paciente até ao seu aparecimento naquele a quem transmitiu a doença.

Os cientistas concluíram que este segundo atraso tende a ser menor do que o primeiro, o que conduziu à ideia de existir transmissão antes dos primeiros sintomas. Esta transmissão pré-sintomática poderá representar mais de metade dos casos, podendo ocorrer até quatro dias antes dos sintomas, estimam os investigadores.

No entanto, estes resultados ainda precisam de ser confirmados por outros estudos, realçaram outros cientistas num comentário também publicado pela British Medical Journal.

Actualmente e mesmo com este trabalho, a transmissão pré-sintomática “não é irrefutável”, alertam, embora reconheçam que o estudo marca um passo importante nessa direcção, devido à grande amostra de pacientes e à seriedade dos modelos estatísticos utilizados.

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