Conselho Português para a Saúde e Ambiente é lançado esta segunda-feira

O novo conselho reúne 37 organizações e quer diminuir o impacto das alterações climáticas, preocupado com a pegada ecológica no sector da saúde.

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Iniciativa visa preparar o sistema de saúde para eventos inesperados e uma nova epidemiologia das doenças Daniel Rocha

O Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA) é apresentado esta segunda-feira, às 18h00, numa sessão pública na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. A nova entidade reúne 37 organizações da área da saúde empenhadas não só em mitigar o impacte das alterações climáticas na saúde humana, mas também reduzir a pegada ecológica neste sector.

“É muito importante que tenhamos uma voz comum, uma inteligência colaborativa e uma estratégia conjunta em relação aos impactes da mudança do clima, da degradação ambiental e da repercussão na saúde humana”, afirma ao PÚBLICO o médico internista Luís Campos, dinamizador da criação do CPSA.

O CPSA agrega cinco ordens profissionais, associações, sociedades científicas, laboratórios, grupos privados de saúde, a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa e a indústria farmacêutica. Entre os objectivos deste novo órgão está a preparação do sistema de saúde para eventos inesperados, incluindo a possibilidade de novas pandemias, assim como a criação de medidas conjuntas para que o sector da saúde seja, ele próprio, mais sustentável.

Luís Campos recorda que o sector da saúde é actualmente responsável por 4,4% da emissão de gases com efeito de estufa. “Se fosse um país, era o quinto maior poluidor do planeta”, afirma o médico, que preside também à Comissão de Qualidade e Assuntos Profissionais e à Federação Europeia de Medicina Interna.

Uma perspectiva nacional sobre esta questão será apresentada pelo cirurgião cardíaco João Queiroz e Melo, co-dinamizador da criação do CPSA, numa palestra intitulada “A pegada ecológica da área da saúde em Portugal”.

A sessão de apresentação em Lisboa inclui ainda uma palestra de Maria Neira, directora de saúde pública e ambiente da Organização Mundial da Saúde (OMS). A comunicação, intitulada “O impacto das alterações climáticas e da degradação ambiental na saúde”, vai discorrer sobre como a crise do clima está directamente pode colocar em risco bem-estar humano e o funcionamento saudável dos nossos corpos.

“Mais de cinco milhões de mortes em excesso podem ser atribuídas a temperaturas anormalmente extremas. A poluição [do ar], por exemplo, é responsável por cerca de nove milhões de mortes por ano. Estamos expostos a um maior risco de pandemias”, enumerou Luís Campos, para exemplificar as questões de saúde pública que emergem da crise climática. O médico recorda que Maria Neira, desde 2005, tem liderado esta unidade da OMS que se debruça sobre a intersecção entre as esferas do ambiente e da saúde.

O britânico Nick Watts, por sua vez, vai apresentar uma comunicação sobre o esforço de desenhar um serviço de saúde neutro em carbono no Reino Unido. O programa do evento prevê ainda a participação do ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e do secretário de Estado do Ambiente e da Energia, João Galamba.

Num artigo publicado em Agosto na revista científica European Journal of Internal Medicine, do qual Luís Campos era primeiro autor, a Federação Europeia de Medicina Interna já tomava uma posição clara sobre o papel dos médicos e do sector perante a crise climática. O documento referia que a indústria da saúde deve assumir um papel activo na acção climática, propondo diversas recomendações para o sector e para os próprios médicos (tanto como classe profissional como enquanto cidadãos).

“O sistema de saúde tem de estar cada vez mais preparado para dar resposta a estas mudanças e a estes acontecimentos que vão ser cada vez mais frequentes no futuro. Os profissionais de saúde, como defensores dos doentes – mas também como cidadãos –, têm a obrigação ética de se envolver neste alerta global”, conclui Luís Campos.

Notícia actualizada às 16h10.

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