Padre suspeito de exploração sexual obrigado a apresentar-se à polícia

Pároco tinha sido detido na quinta-feira por suspeita de abusar sexualmente de pessoa incapaz de resistência. Vítima já foi colocada em centro de protecção de pessoas alvo de tráfico de seres humanos.

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Por decisão judicial de 2017, o arguido foi nomeado tutor da vítima Sérgio Azenha

O padre de 63 anos detido esta quinta-feira pela alegada prática de tráfico de pessoas e abuso sexual, em Vila Nova de Foz Côa, saiu esta sexta-feira em liberdade e sujeito a apresentações quinzenais às autoridades policiais.

Segundo fonte ligada ao processo, o juiz de instrução criminal do Tribunal de Matosinhos, onde o pároco foi ouvido nesta sexta-feira, decretou ainda a proibição de contacto com a vítima, um homem de 44 anos que sofre de défice cognitivo e de quem o sacerdote era tutor.

Quem está ligado à investigação não estranhou as medidas de coacção, já que, com a instalação da vítima num centro de acolhimento de pessoas que foram sujeitas a tráfico de seres humanos, desaparece o perigo que poderia justificar medidas mais gravosas: a continuação da actividade criminosa.

O caso vai manter-se em investigação, já que foi aberto há apenas três semanas, e a primeira fase concentrou-se em reunir indícios suficientes para deter o padre e retirar-lhe a alegada vítima da sua guarda. Esta quinta-feira, o homem que seria explorado laboral e sexualmente pelo padre foi ouvido e participou noutras diligências, devendo nos próximos dias prestar declarações para memória futura. Tal deve evitar que volte a ser ouvido durante o julgamento e que se venha a cruzar com o sacerdote em tribunal.

No depoimento terá confirmado que, quando não acedia aos desejos sexuais do padre, este o fecharia numa habitação anexa a uma igreja, onde este vivia. O clérigo residia na aldeia de Numão, uma localidade com menos de 300 habitantes, em Vila Nova do Foz Côa, onde a Polícia Judiciária (PJ) o deteve. Era responsável por várias paróquias nas redondezas.

O padre, que se tornou sacerdote há apenas nove anos, tornou-se formalmente tutor da vítima na sequência de uma decisão judicial proferida em 2017.

Nessa altura, o homem já viveria há dois anos sob a guarida do padre, para quem trabalhava. Fazia jardinagem, limpezas, manutenção e até algumas tarefas eclesiásticas. Mas não recebia nada. Em troca tinha disponível o alojamento, numa casa paroquial degradada, e a alimentação. Mas a PJ acredita que o padre queria mais, exigindo favores sexuais ao homem. A vítima, desgastada com a situação que se manteria há vários anos, terá contado o que se passava a familiares, que procuraram uma técnica de uma equipa de prevenção de tráfico de seres humanos, que reportou o caso à Judiciária.

Perante vários sinais de que havia o risco da vítima atentar contra a sua própria vida, a Judiciária agiu com rapidez. Tanto a Comissão Diocesana para a Protecção de Menores e de Pessoas Vulneráveis de Lamego como a Diocese de Lamego, que tutela o clérigo detido, garantiram não ter recebido qualquer queixa deste teor envolvendo o padre. “Foi uma surpresa total”, reagiu ao PÚBLICO o presidente da comissão diocesana, Amadeu Castro.

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