Com Musk ao volante do Twitter, Trump aguarda que lhe reabram a porta

Defensor de uma “liberdade de expressão absoluta”, o novo dono do Twitter já disse que não teria suspendido a conta pessoal do ex-Presidente dos EUA. Regresso estará dependente da decisão de Trump.

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O empresário Elon Musk considera que os conservadores têm sido censurados Reuters/Joe Skipper

A compra da rede social Twitter pelo multimilionário Elon Musk, confirmada na madrugada desta sexta-feira, virou a atenção de milhões de utilizadores para uma conta que está inactiva há mais de um ano e meio, e cuja possível reactivação, nas próximas horas ou dias, pode ter um papel importante na recta final da campanha para as eleições intercalares nos Estados Unidos, a 8 de Novembro.

Criada em Maio de 2009, quatro meses depois da tomada de posse de Barack Obama como Presidente dos EUA, a conta @realDonaldTrump foi um diário de viagem de Donald Trump durante mais de uma década, e também o sítio onde milhões de utilizadores puderam testemunhar, ao longo dos anos, a transformação de um magnata do imobiliário e estrela da televisão num dos líderes políticos mundiais mais poderosos e mais influentes da história recente.

Até que, a 8 de Janeiro de 2021, o Twitter suspendeu a conta pessoal do então Presidente dos EUA, quando faltavam poucos dias para o final do seu primeiro e único mandato, e 48 horas depois de o Capitólio ter sido invadido por milhares de pessoas que tentaram impedir a certificação final, pelo Congresso, da vitória de Joe Biden na eleição presidencial de Novembro de 2020.

Ironicamente, o último tweet de Trump terminava com uma referência à data em que o seu rival do Partido Democrata iria substituí-lo na Casa Branca: “Respondendo a quem tem perguntado, eu não irei à cerimónia de tomada de posse, a 20 de Janeiro.”

Para trás ficava uma série de declarações que, segundo o Twitter, violaram as regras da empresa “contra a glorificação da violência”, e que deveriam ser punidas com a suspensão da conta. Num comunicado, a empresa disse que os tweets de Trump, na sequência da invasão do Capitólio, poderiam “incitar mais pessoas a repetirem os actos criminosos de 6 de Janeiro de 2021”.

Segundo a base de dados Factba.se, que regista todas as declarações de Trump durante os quatro anos de mandato, o Twitter marcou 471 mensagens da conta @realDonaldTrump com um aviso de “desinformação”.

"Pássaro libertado"

Agora, com a mudança de gerência no Twitter, a reactivação da conta pessoal do ex-Presidente dos EUA é um cenário que entusiasma os seus apoiantes e que assusta os seus críticos.

Num passado recente, e já depois de ter anunciado a intenção de comprar o Twitter, Musk manifestou-se contra a suspensão da conta de Trump, e acusou os altos responsáveis da empresa de limitarem a liberdade de expressão dos sectores mais conservadores nos EUA.

“O pássaro foi libertado”, disse Musk, na madrugada desta sexta-feira, ao confirmar a conclusão do negócio para a compra do Twitter — cujo símbolo é um pássaro azul.

“Ficarei muito feliz se estiver errado, mas todos os sinais vermelhos estão a piscar neste momento”, disse o jornalista Ben Collins, do canal NBC News, um especialista no fenómeno da disseminação de desinformação através das redes sociais, numa reacção ao negócio.

O eventual regresso de Trump ao Twitter, sem as restrições do passado, dará ao ex-Presidente dos EUA uma plataforma muito mais influente do que a rede social criada por si em 2021 — a Truth Social — a poucos dias de importantes eleições para as duas câmaras do Congresso norte-americano.

Segundo os críticos de Musk — um auto-intitulado defensor da “liberdade de expressão absoluta” —, o fim da suspensão da conta de Trump, a confirmar-se, será usado pelo ex-Presidente dos EUA para pôr em causa os resultados das eleições de 8 de Novembro, novamente sem provas, como aconteceu em 2020, mas desta vez sem a pressão de voltar a ser suspenso.

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