Primeiras instalações da fundição Alba ganham nova vida

Projecto da autoria do gabinete Am_pm architects, e promovido por dois trinetos do fundador da fábrica, permitiu criar quatro habitações sem alterar as características arquitectónicas existentes.

ANTIGA SERRALARIA DA FABRICA ALBA EM ALBERGARIA A VELHA TRANSFORMADA EM APARTAMENTOS
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Antiga fábrica foi transformada em apartamentos ADRIANO MIRANDA
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Antiga fábrica foi transformada em apartamentos ADRIANO MIRANDA
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Antiga fábrica foi transformada em apartamentos ADRIANO MIRANDA
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Antiga fábrica foi transformada em apartamentos ADRIANO MIRANDA

A foto datada do início da década de 30 do século passado, e que retrata os operários e patrões da Fábrica Alba nas suas primeiras instalações, não deixa margem para dúvidas: a traça do imóvel situado no Largo Conselheiro Sousa e Melo, no centro de Albergaria-a-Velha, mantém-se inalterada, em respeito pela história daquela que foi uma das mais importantes metalúrgicas do país. Foi esse um dos principais pilares do projecto de reabilitação assinado pelo gabinete Am_pm architects e que acaba de dar nova vida ao edifício histórico. O que mudou? O interior - não obstante terem sido preservados alguns elementos originais -, uma vez que a antiga fábrica deu lugar a quatro habitações.

O investimento foi promovido por dois trinetos do fundador da Alba, Artur e António Martins Pereira, na tentativa de rentabilizarem e recuperarem o imóvel, que estava há alguns anos abandonado e a acusar a necessidade de ser intervencionado. “Um amigo meu chegou a sugerir ter aqui um espaço com várias lojas, mas a ideia não foi para a frente”, introduz António Martins Pereira. Depois de perceberem que havia falta de habitação no concelho, os trinetos de Augusto Martins Pereira decidiram dar uma nova finalidade ao imóvel e mostram-se orgulhosos do resultado final da intervenção, concluída há cerca de um mês. “Para nós, era muito importante dar dignidade ao edifício, que tem um peso histórico e familiar muito grande, e ao mesmo tempo rentabilizá-lo”, sublinha, optando por não revelar os valores do investimento.

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Um projecto que merece o devido destaque também por parte do gabinete de arquitectura fundado em Barcelona, em 2001, e actualmente sediado em Albergaria-a-Velha, depois de ter estado no Porto. Além da carga histórica do edifício em si, a localização “na antiga Estrada Real Porto-Lisboa, actual Rua de Santo António, em que no perfil da rua predominam ainda alguns exemplares de elevada qualidade arquitectónica com cronologias distintas”, obrigou a “um cuidado e atenção redobrados”, vinca a arquitecta Ana Maio. “Trabalhar num edifício icónico e com 100 anos é um dos desafios mais aliciantes que desenvolvemos”, acrescenta.

Atribuíram-se “novos usos e valências sem adulterar a identidade e a génese do edifício”, realça a arquitecta, que baptizou este projecto com o nome Albaloft, “remetendo para os lofts ligados à área da indústria, em vários locais do mundo”.

Um exemplo de reabilitação a seguir

Numa área de construção de 315 metros quadrados, foram construídos quatro apartamentos (dois no rés-do-chão e dois no primeiro andar), com áreas entre os 60 e os 74 metros quadrados, tendo sido abertas clarabóias na cobertura de modo a iluminar e ventilar o espaço interior. “Na habitação, é muito importante a questão da ventilação e ter janelas para o exterior, e esse foi um desafio que tivemos neste projecto. O segundo quarto que existe em cada um dos apartamentos tem clarabóias que se abrem automaticamente e permitem a ventilação do espaço”, nota Ana Maio.

Numa altura em que está na ordem do dia a questão da falta de habitação, assim como a necessidade de reabilitar edifícios desocupados, o projecto Albaloft pode, segundo a arquitecta, servir de exemplo para intervenções futuras. “É possível conseguir intervir em património não o destruindo, requalificando-o e tendo novas valências”, sustenta. A Alba foi uma fundição que teve grande importância durante praticamente todo o século XX, com impacto nacional e nas ex-colónias e exportando para a Europa e para o Brasil. Empregava várias gerações de famílias, foi uma verdadeira escola de ofícios para a maioria dos jovens das terras vizinhas e tornou-se num modelo de progresso industrial. Foi pioneira em utensílios domésticos, mobiliário urbano - é mítico o seu banco de jardim - e ainda construiu o primeiro e único carro totalmente português. A empresa encerrou após a adesão de Portugal à CEE/UE, devido aos efeitos da concorrência na globalização após os anos 90. A marca mantém-se, depois de ter sido relançada, em 2011, por um bisneto do fundador.

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