Elon Musk é o novo dono do Twitter. Primeira medida foi despedir altos executivos

“O pássaro foi libertado”, escreveu Elon Musk após fechar o acordo para a compra do Twitter por 44 mil milhões de euros. Bruxelas alerta: “O pássaro voará segundo as nossas regras europeias.”

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Elon Musk fechou o acordo para a compra do Twitter por 44 mil milhões de euros DADO RUVIC/Reuters

O homem mais rico do mundo é o novo dono do Twitter. Elon Musk fechou o acordo para a compra do Twitter por 44 mil milhões de euros na quinta-feira e a sua primeira medida terá sido demitir o presidente executivo (ou CEO), Parag Agrawal, o administrador financeiro, Ned Segal, e a directora do departamento jurídico e de políticas, Vijaya Gadde, avança a agência Reuters.

O alegado despedimento aconteceu a poucas horas do prazo estabelecido por um juiz para que o acordo fosse finalizado nesta sexta-feira, segundo a agência Lusa.

“O pássaro foi libertado”, escreveu Elon Musk numa publicação na rede social depois de fechar o acordo, referindo-se ao logótipo do Twitter e à sua ambição de diminuir as limitações no que respeita ao conteúdo publicado. O empresário pondera mesmo reverter proibições de utilização da rede social, o que poderá abrir caminho para que o ex-presidente norte-americano Donald Trump, que foi banido do Twitter após o ataque de 6 de Janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA, regresse à plataforma.

Musk prometeu também aumentar a base de utilizadores e as receitas do Twitter, assim como “derrotar” os bots responsáveis pelo spam e disponibilizar publicamente os algoritmos que determinam a forma como o conteúdo é apresentado aos utilizadores.

De acordo com o jornal Financial Times, Musk prometeu ainda inovar nos produtos na tentativa de construir uma “super-app” que incorpore pagamentos, comércio e mensagens.

Porém, o presidente executivo da Tesla não forneceu detalhes sobre como irá pôr em prática os seus objectivos nem sobre quem vai administrar a empresa.

Elon Musk teria revelado que planeava proceder a mais despedimentos em grande escala, algo que o empresário desmentiu recentemente. Actualmente, o Twitter tem cerca de 7500 funcionários.

Um debate “saudável"

O empreendedor tentou acalmar os ânimos dos anunciantes, principal fonte de receitas do Twitter, tendo garantido que decidiu comprar a rede social para ajudar a humanidade e que não quer que esta se torne um “lugar infernal aberto a todos”.

A mensagem foi divulgada depois de surgirem preocupações de que os planos de Musk para promover a liberdade de expressão, através de uma menor moderação de conteúdo, permitam ainda mais toxicidade online e afastem utilizadores.

"A razão pela qual adquiri o Twitter é porque é importante para o futuro da civilização ter uma praça comum da cidade digital, onde uma vasta gama de crenças possa ser debatida de forma saudável, sem recorrer à violência”, escreveu Elon Musk.

“Existe actualmente um grande perigo de os meios de comunicação social se dividirem em câmaras de eco de extrema-direita e de extrema-esquerda que geram mais ódio e dividem a sociedade”, concluiu.

Nas horas seguintes à confirmação da compra, Elon Musk viu multiplicarem-se os apelos para a recuperação de contas eliminadas do Twitter e queixas de outros perfis que dizem estar a ser alvo de menor alcance devido às ideias que partilham – queixas que prometeu analisar. Recebeu também mensagens de líderes e antigos chefes de Estado mundiais.

Donald Trump, por exemplo, não avançou se planeia regressar ao Twitter, mas manifestou-se “muito feliz” por ver a rede social em “boas mãos”. Na altura em que a conta pessoal do ex-Presidente norte-americano foi suspensa, Musk manifestou-se contra a decisão, estando por isso em aberto um regresso do republicano ao Twitter.

Até da Rússia chegaram comentários sobre a aquisição, com Dmitri Medvedev, antigo Presidente russo, a desejar a Elon Musk boa sorte para “superar preconceitos políticos e a ditadura ideológica no Twitter”. O actual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia deu ainda uma achega ao apoio dado pelo bilionário à Ucrânia através da Starlink: “desista desse assunto”.

Ao final da tarde, Musk anunciou que a empresa vai formar um “conselho de moderação de conteúdo com pontos de vista muito diversos”, garantindo que nenhuma decisão “importante” relativa a conteúdo ou à recuperação de contas será tomada antes de este órgão se reunir.

Uma entrada na sede em grande

O prazo de sexta-feira para fechar o negócio foi ordenado pelo tribunal no início de Outubro, sendo este o último passo de uma batalha que começou em Abril com Musk a assinar um acordo para adquirir o Twitter. Depois, seguiu-se um recuo que levou o Twitter a processar o empresário.

Nesta quarta-feira, Elon Musk entrou na sede da rede social em São Francisco, nos Estados Unidos, com uma pia nas mãos. “A entrar na sede do Twitter – reflictam”, escreveu o filantropo, que tem três nacionalidades diferentes (sul-africano, canadiano e norte-americano), numa publicação.

O empreendedor também mudou a descrição no seu perfil no Twitter, referindo-se como “Chief Twit” — em inglês, “twit” significa “tonto” —,​ e mudou a sua localização para a sede da rede social, em São Francisco, dando indícios da conclusão do negócio.

Segundo o Wall Street Journal, os bancos que participam no financiamento da operação já começaram o processo. Além disso, a Bolsa de Valores de Nova Iorque alertou que as acções do Twitter foram suspensas antes do começo das negociações nesta sexta-feira.

Bruxelas reage

A União Europeia reagiu rapidamente ao anúncio. “Na Europa, o pássaro voará segundo as nossas regras europeias”, escreveu Thierry Breton, comissário europeu para o Mercado Interno, numa publicação no Twitter.

Em Abril, o membro do executivo comunitário tinha já alertado que, se Elon Musk não cumprir as regras europeias em matéria de combate à desinformação, o Twitter corre o risco de ser banido da Europa.

“Damos as boas-vindas a toda a gente. Estamos receptivos, mas dentro das nossas condições. Pelo menos, nós sabemos o que lhe dizer: ‘Elon, aqui há regras. És bem-vindo mas estas são as regras. Não vão ser as tuas regras que se vão aplicar aqui'”, advertiu, na altura, Thierry Breton.

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