Jorge Martins: “Sou teimoso, insisto que a pintura não morreu”

No Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, inaugurou uma exposição de pintura de Jorge Martins, Topomorphias, comissariada pelo próprio artista. Mostram-se aí mais de 60 quadros, quase todos inéditos e recentes. Para além deste motivo imediato e suficiente, esta entrevista percorre alguns “lugares” fundamentais da obra deste artista que se mantém em plena e vigorosa actividade, de que esta exposição é uma prova.

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RG Rui Gaudêncio - 19 Outubro 2022 - Jorge Martins, artista plástico / pintor. Lisboa. Público Rui Gaudêncio

O trabalho artístico de Jorge Martins, o seu longo percurso nos territórios da pintura, mas também do desenho, tem uma solidez e um poder de atracção que podem ser experimentados em diferentes níveis, acessíveis tanto ao espectador mais desprevenido como ao espectador mais treinado e informado em questões de teoria e história da arte. Trata-se de uma obra que dialoga intensamente e de maneira muito produtiva com toda a cultura artística, sem se deixar jamais asfixiar por esse diálogo. Em resposta a um longo e insistente tópico que se aplica a pôr a pintura em questão e a passar-lhe certidões de óbito, Jorge Martins prossegue na sua obra as grandes questões da pintura. E, para isso, convoca a tradição, as categorias e conceitos que atravessam o corpus da teoria da arte e da estética. Esta pulsão reflexiva e o convívio e diálogo com os grandes autores de outras artes e disciplinas — a música, a literatura, a filosofia — ressaltam com evidência num volumoso livro que recolhe desenhos e escritos que foi acumulando em cadernos, de 1964 a 2020. Estes Cadernos (é esse o título) foram publicados, em edição bilingue (português e espanhol), pelo Museu de Arte Contemporânea de Vigo (MARCO) e pela editora Documenta (2020). Trata-se de uma massa enorme de escritos breves, muitos deles aforismos, sobre os mais variados temas, com uma forte predominância das reflexões sobre a pintura, mas também sobre as outras artes (a literatura, a música, etc.). Sem incorrerem no risco de serem pretensiosos e de construírem uma imagem de um artista-teórico, estes escritos fornecem um material riquíssimo de reflexão e, depois de os lermos, torna-se impossível olhar as pinturas de Jorge Martins ignorando o que ele foi escrevendo, de maneira descomprometida e sem a necessidade de satisfazer protocolos e regras disciplinares, enquanto se comprometia intensamente com o seu trabalho de artista.

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