Diogo Brito sobre a forma como a arquitectura comunica com as pessoas e a reconversão do Matadouro, em Campanhã

Neste episódio de No País dos Arquitectos, falamos sobre a reconversão do antigo Matadouro Industrial de Campanhã com o arquitecto Diogo Brito. O podcast No País dos Arquitectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. Segue-o no Spotify, Apple Podcasts ou outras plataformas.

Estádio Nacional do Japão
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Reconversão do antigo Matadouro Industrial de Campanhã Cortesia Kengo Kuma & Associates + OODA
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Reconversão do antigo Matadouro Industrial de Campanhã Cortesia Kengo Kuma & Associates + OODA
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Reconversão do antigo Matadouro Industrial de Campanhã Guilherme Oliveira
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O Matadouro
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Reconversão do antigo Matadouro Industrial de Campanhã Cortesia Kengo Kuma & Associates + OODA
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Reconversão do antigo Matadouro Industrial de Campanhã Cortesia Kengo Kuma & Associates + OODA

No 44.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Diogo Brito, do gabinete OODA, sobre a reconversão do antigo Matadouro Industrial de Campanhã.

A cidade do Porto sempre esteve em permanente mutação, mas Campanhã tornou-se, ao longo dos anos, uma freguesia periférica. A desindustrialização contribuiu, em grande parte, para essa mesma segregação e criou um “vazio urbano” contrastante com o centro da cidade: “tínhamos a consciência de que estávamos a intervir num território... primeiro que já tem História, tem presença local, tem presença afectiva. No fundo, sabíamos que estávamos a intervir numa zona que é territorialmente segregada e economicamente carente”, lembra o arquitecto.

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Convém informar que, nos últimos anos, têm vindo a ser desenvolvidos alguns projectos que se assumem fundamentais para a regeneração desta zona da cidade, como é o caso do Terminal Intermodal de Campanhã, a criação do Espaço Mira e Mira Fórum e agora a reconversão do antigo Matadouro Industrial. O projecto para o Matadouro procura responder aos desafios do programa de concurso e, ao mesmo tempo, criar uma “ligação com a cidade”, colocando em contacto pessoas e lugares que outrora seriam inconciliáveis. É, aliás, a partir dessa necessidade de estabelecer “mais pontos de convergência” que é estruturado todo o pensamento arquitectónico: “numa lógica de resposta específica, procuramos trabalhar com aquilo que é autóctone, com aquilo que lá está, com aquilo que sempre lá esteve... existe esta ideia de que podemos ter esta lógica ambivalente de criar uma nova identidade de um local, mas manter o carácter existente. Trabalhar nesta ambivalência é muito interessante”, explica o arquitecto.

Este projecto dos Kengo Kuma & Associates é feito em parceria com os OODA. Perante a visão de que “a arquitectura é pensamento”, Diogo Brito revela que houve uma “osmose em relação à cultura japonesa”: “como tínhamos o histórico constante de colaboração, para nós, não foi um processo atípico. Foi, literalmente, fazer aquilo que fazemos sempre e que não pararemos de fazer porque faz parte da forma como vemos o enriquecimento da arquitectura em que existe sempre uma lógica de complementaridade e de pluralidade”. Por fruto dessa heterogeneidade de pensamento, a premissa do projecto não partiu de uma resposta, mas sim de uma pergunta: “na base da criação do novo espaço público na cidade que tipologia de espaço público temos no Porto?” A cobertura para o Matadouro nasce “literalmente por causa dessa pergunta”: “conhecemos o território, conhecemos a cidade, sabemos também como é que ela funciona para quem a habita, para quem a visita e para quem trabalha nela. Sabemos a meteorologia, somos conscientes do clima e tudo isto informa ou deve informar quando pensamos em espaço público.”

Para Diogo Brito, a arquitectura – “uma das profissões mais antigas do mundo” – deve estar voltada para a cidade e comunicar com as pessoas: “por isso é que falamos de como é que nós podemos criar algo que faça sentido para as pessoas e que não faça sentido só para os arquitectos, para a nossa gramática auto-induzida, para as nossas narrativas... não. É uma arquitectura para as pessoas”, fundamenta o arquitecto. Perante a “ambição programática” do projecto, Diogo Brito olha também para o que está à volta: “temos um Parque da Cidade, que é uma peça lindíssima. Temos a nossa marginal, temos agora o renovado Bolhão, temos as nossas praças, mas depois estamos também muito conscientes do porquê da proliferação de muitos shoppings na cidade porque eles funcionam, exactamente, como uma resposta muito confortável... porque nesta cidade chove metade do ano.”

Muito crítico nesta matéria, o arquitecto acredita que as grandes multidões que tendem a concentrar-se nos espaços comerciais não o fazem numa óptica de consumo, mas apenas porque não existem lugares onde as pessoas se possam resguardar das intempéries: “nós temos uma cidade riquíssima e eu acho que é muito mais importante conseguirmos criar a substância e relevância suficiente no projecto do Matadouro para que as pessoas possam dizer: ‘não vou para o Norte Shopping, nem vou para o Mar Shopping... vou encontrar-me no Matadouro, faz mais sentido’”. Aproveitando os “quase dez mil metros quadrados de área aberta”, a cobertura funciona como esse abrigo que protege dos vários impactos ambientais (sol, chuva, vento ou ruído). Para os arquitectos Kengo Kuma & Associates e os OODA, era importante criar um modelo de espaço público que proporcionasse não só “um programa cultural mais relevante”, mas que também oferecesse “uma experiência espacial muito mais substantiva”.

Sabe-se que neste Matadouro Industrial de Campanhã, desactivado há mais de 20 anos, irá nascer também uma área para a instalação de empresas, museus e espaços para acolher projectos de coesão social: “dentro dos edifícios, há três ou quatro eixos principais. O primeiro é uma forte componente municipal e cultural. Quase metade do equipamento, em termos programáticos, pertence à Câmara Municipal do Porto. Portanto, dentro desse espaço existe um novo grande Museu da Cidade, que tem uma colecção belíssima. Há também uma galeria, um acervo de arte e todo um conjunto de zonas de escritórios.”

Para Diogo Brito, este projecto funciona como uma “âncora” que procura mitigar “algumas assimetrias entre territórios” e cria uma passagem pedonal por cima da Via de Cintura Interna (VCI) que conduzirá ao Metro do Porto: “muita da vontade de ter esse atravessamento pedonal é porque há essa identificação que aquela zona da cidade – para poder crescer e poder ter até índices de habitabilidade, conforto e ligação ao resto... para não se tornar tão ostracizada – precisa de ter essa ligação.”

Durante a entrevista, fala-se como o Matadero de Madrid foi “uma das maiores referências para este projecto”. Tanto o Matadouro do Porto como o Matadero surgiram na mesma época, tinham a mesma função e estiveram, durante algum tempo, abandonados. Diogo Brito explica como, ainda assim, as duas intervenções nascem com linguagens diferentes: “quando olhamos para a gramática formal, para o ritmo dos vãos... quando olhamos para coisas que são absolutamente fundamentais na arquitectura, na análise do edificado, há pontos de contacto, de facto, e houve esse levantamento, mas depois o que não há é... não é uma zona da cidade com as características idênticas às de Campanhã e ao local onde está inserido o Matadouro. Não tem a adjacência, com todos os seus problemas e com toda esta necessidade de resposta. Não tinha o mesmo tipo de programa, não tinha o mesmo tipo de orçamento... isto também é importante”.

Para além disso, esta reconversão cria uma cidade dentro da cidade porque nela coabitam naturezas diversas, tanto a nível material (no edificado) como imaterial (na sua relação com as pessoas): “este projecto tem quase tudo. Tem quase todo o tipo de programas... só falta a habitação e a hotelaria. Os edifícios são diferentes. Existe uma ponte pedonal, existe espaço público e praças”. Paralelamente, houve também uma vontade de trazer a natureza para dentro do Matadouro e foram plantadas árvores como laranjeiras e limoeiros que evocam aromas e influenciam a atmosfera do lugar.

A conclusão do projecto estava prevista para o final do próximo ano, mas esse prazo passou a ser irrealista tendo em conta a conjuntura de elevada incerteza actual. Para já, Diogo Brito esclarece em que ponto estão os trabalhos, o que foi feito e o que haverá a concretizar: “houve uma fase fundamental do projecto que terminou, que foi a fase das demolições. Recentemente, foi anunciada uma nova fase que vai começar, que é a das fundações. Portanto, a obra mais reconhecida, mais estrutural e mais global está a começar, neste momento e, com certeza, agora vai ser mais fácil poder acompanhar”.


No País dos Arquitectos é um dos podcasts da Rede PÚBLICO. Produzido pela Building Pictures, criada com a missão de aproximar as pessoas da arquitectura, é um território onde as conversas de arquitectura são uma oportunidade para conhecer os arquitectos, os projectos e as histórias por detrás da arquitectura portuguesa de referência.

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