Israel e Líbano assinam acordo em raro progresso diplomático

“Não é todos os dias que um Estado inimigo reconhece Israel”, diz o primeiro-ministro, Yair Lapid. O Presidente do Líbano, Michel Aoun, diz que nada muda na política externa do país.

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O enviado dos EUA que mediou o acordo, Amos Hochstein, e o Presidente do Líbano, Michel Aoun DALATI NOHRA/Reuters,DALATI NOHRA/Reuters
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Yair Lapid na reunião do Governo que aprovou o acordo RONEN ZVULUN/Reuters,RONEN ZVULUN/Reuters

Israel e Líbano assinaram um acordo definindo a fronteira marítima entre os dois países, num progresso diplomático após dez anos de tentativas patrocinadas pelos Estados Unidos – que agora tinha ainda mais interesse, porque o acordo abre portas à exploração de mais gás nas águas antes disputadas, que Israel poderá usar no seu mercado e ainda libertar alguma quantidade para a Europa.

O primeiro-ministro israelita, Yair Lapid, assinou o acordo após uma reunião do Governo que o aprovou. Nas declarações, focou-se na importância histórica do acordo – muitos analistas dizem que é tão importante como os acordos de Abrãao, de Israel com os Emirados Árabes Unidos, e de seguida com o Bahrein, Sudão e Marrocos, mas tem tido muito menos atenção. “Não é todos os dias que um Estado inimigo reconhece Israel”, declarou Lapid, citado pelo diário israelita Haaretz. Lapid enfrenta eleições na terça-feira, em que o partido do antigo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deverá ser o mais votado, mas não deverá conseguir uma maioria para governar.

O Líbano assumiu uma posição menos entusiástica: o acordo, disse o Presidente, Michel Aoun, depois da assinatura, “não tem dimensão política ou impacto que contrarie a política externa do Líbano”, cita a agência Reuters.

A cerimónia de assinatura pelos líderes do país decorreu separada, cada uma em seu país, sublinhando que estes ainda são dois países tecnicamente em guerra, desde 1948. Mais tarde, uma cerimónia conjunta decorreu na base das Nações Unidas em Naqoura, na “linha azul” declarada pela ONU após a retirada de Israel do Sul do Líbano em 2000. As delegações israelita e libanesa entraram por lados opostos da tenda onde estava o enviado americano Amos Hochstein, que mediou a negociação. Hochstein recebeu o documento de cada um dos responsáveis e assinou-o, marcando o momento da entrada em vigor, conta Barak Ravid, do site Axios. As duas delegações aplaudiram, mas em momento nenhum houve qualquer contacto entre os dois lados.

Entre jornalistas que seguem a diplomacia israelita discutia-se se Lapid tinha razão ao dizer que este acordo é um reconhecimento do Estado de Israel por parte do Líbano. Por um lado é, concordaram, já que o documento refere várias vezes a palavra Israel. Por outro lado não é, já que o Líbano se apressou a repetir que o acordo não significa o reconhecimento do Estado de Israel, e a palavra “fronteira” é usada como “limite” (e não algo que defina um Estado, esclareceram). Ou seja, a conclusão da jornalista do Jerusalem Post que segue a diplomacia do país, Lahav Harkov, é que “ambos os lados têm razão, por mais bizarro que isso seja”.

O acordo, que traz benefícios económicos para os dois países, é um bom incentivo para que não haja um novo conflito entre Israel e o Hezbollah, dizem responsáveis americanos, libaneses e israelitas, com muitos analistas a partilhar a opinião.

A exploração de gás que o acordo permite acabou por anteceder, um dia, a sua assinatura: a israelita Energean disse que tinha começado a extrair gás do campo de Karish, na zona que antes do acordo seria disputada, e cujo pico de produção dentro de duas a quatro semanas, dizia a empresa citada pelo jornal Times of Israel. As vendas podem começar já nos próximos dias e a capacidade máxima deverá ser atingida dentro de quatro a seis meses.

Depois de se encontrar com o speaker do Parlamento libanês, Nabih Berri, Amos Hochstein disse aos jornalistas esperar que o acordo permaneça em vigor, ainda que os dois países mudem de liderança, o que pode acontecer em breve. Em Israel, Netanyahu fez campanha contra o acordo no que foi visto como uma manobra eleitoral.

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