Porque é que Kherson é de importância estratégica para a guerra?

Se a Ucrânia reconquistar a região, a Rússia fica sem ligação terrestre à Crimeia e esta região sem abastecimento de água.

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As tropas ucranianas continuam a contra-ofensiva em Kherson EPA/HANNIBAL HANSCHKE

As forças ucranianas estão a aumentar a pressão sobre as tropas russas na região de Kherson, no Sul da Ucrânia, província que Moscovo ocupou nos primeiros dias da invasão da Ucrânia, que começou no dia 24 de Fevereiro. Perder o controlo da localidade seria outro duro golpe para o Presidente Vladimir Putin.

Eis os motivos que fazem de Kherson uma região estrategicamente importante para o curso da guerra da Rússia na Ucrânia.

Porta de entrada para a Crimeia

A região de Kherson faz fronteira com a Crimeia e fornece a Moscovo uma ponte terrestre para a península do mar Negro anexada pela Rússia em 2014. Se a Ucrânia recuperasse partes da região de Kherson privaria Moscovo desse corredor terrestre. Além disto, Kiev também traria a artilharia ucraniana de longo alcance para perto da Crimeia, algo que entraria em conflito com os interesses de Moscovo.

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A península ucraniana, cuja anexação Putin vê como uma conquista fundamental durante as mais de duas décadas no poder, é o local onde está sediada uma enorme força militar russa e a frota do mar Negro, que Moscovo utiliza para mostrar poder no Mediterrâneo e no Médio Oriente.

Abastecimento de água doce

O abastecimento de água doce à Crimeia também seria ameaçado se a Ucrânia reconquistasse a região de Kherson.

Depois de Moscovo ter ocupado a Crimeia, em 2014, Kiev bloqueou o abastecimento de água através de um canal do rio Dniepre. Quando a Rússia capturou partes da região de Kherson e da vizinha Zaporijjia, procurou desbloquear o canal para devolver o fluxo de água doce à península, recurso essencial para a população, irrigação dos campos agrícolas e para apoiar as várias instalações militares russas na região.

Se a Ucrânia recuperar Kherson, a Crimeia volta a ficar sem acesso à água do continente e passa exclusivamente a depender dos próprios recursos hídricos, que, embora sejam suficientes para satisfazer as necessidades dos habitantes, não chegam para suportar as bases militares da Rússia.

Isto significaria que Moscovo teria de investir para resolver o problema da escassez de água em vez de deslocar fundos para melhorar as infra-estruturas militares na península.

Rotas logísticas

As forças russas estão entrincheiradas na margem direita – ocidental – do rio Dnieper, no Norte da região de Kherson. Este é o único lugar que a Rússia ocupa ao longo da margem direita do vasto rio que divide a Ucrânia — atravessa todo país (passa junto a Kiev, Dnipro e Zaporijjia).

As forças ucranianas têm estado a atacar as pontes sobre o rio para prejudicar a capacidade de Moscovo se reabastecer. Segundo analistas militares, perder esse lado do rio permitiria à Ucrânia atacar as linhas de abastecimento russas que apoiam a região de Zaporijjia e procurar recuperar a central nuclear.

“A margem direita é importante para ambos os lados – para (Rússia) a fim de assegurar a firmeza da defesa da direcção de Zaporijjia, e para (Ucrânia) libertar esta direcção e cortar estas três importantes artérias: o corredor terrestre para a Crimeia, a água para a Crimeia e devolver o controlo da (central nuclear)”, declara o analista militar Oleh Zhdanov.

Significado simbólico

A cidade de Kherson é, até à data, a única capital regional que as forças russas capturaram desde o início da invasão. Perdê-la seria um duro golpe simbólico para o Kremlin e indicaria que a Rússia não consegue – por enquanto – avançar para as cidades de Mikolaiv e Odessa, que Moscovo tentou capturar, afirmou Oleksander Musiyenko, também perito militar.

“É evidente que a perda de Kherson e da cabeça-de-ponte Kherson (posição russa do outro lado do rio Dniepre) terá consequências para a imagem da Rússia e será vista negativamente dentro do país”, acrescentou.

Controlo do mar Negro

A região de Kherson, que tinha uma população de mais de um milhão de habitantes antes da guerra, está situada no mar Negro. Recapturá-la ajudaria Kiev a recuperar o controlo de parte da linha costeira para um mar que representa uma importante artéria para as exportações alimentares para os mercados estrangeiros.

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