Reino Unido quer evitar que os consumidores sejam enganados por greenwashing

Documento do regulador financeiro com as novas medidas está em consulta pública até Janeiro. Regras não serão aplicadas antes de Junho de 2024 para as empresas se ajustarem.

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Autoridade está a fazer uma outra consulta para poder aplicar pacote de regras a fundos internacionais STEFAN WERMUTH/Reuters

O regulador financeiro do Reino Unido propôs novas regras para serem aplicadas em 2024 para os fundos e os gestores de fundos com o objectivo de prevenir que os consumidores sejam enganados por greenwashing ou por afirmações exageradas em relação a investimentos amigos do ambiente.

O greenwashing acontece quando uma empresa (ou outra entidade) declara que tem um compromisso ambiental e faz publicidade desse compromisso enquanto estratégia comercial, mas esse compromisso não existe, de facto, ou é parcial. Biliões de dólares correm pelo mundo em investimentos que dizem ter credenciais de governança, sociais e ambientais (ESG, na sigla inglesa), mas as regras sobre o que constitui uma política ESG são inconsistentes.

O mercado de fundos de investimento responsáveis cotados no Reino Unido cresceu 64% em 2021, alcançando 91,08 mil milhões de euros, segundo a Autoridade de Regulação Financeira (ARF), uma entidade reguladora do mundo das finanças no Reino Unido que é independente do Governo.

Uma mudança de retórica

O Reino Unido quer reforçar o seu papel global no financiamento verde e a ARF propôs um pacote de medidas, incluindo um “rótulo de sustentabilidade” para os produtos de investimento e restrições em relação ao uso de termos como ESG, “verde” e sustentável.

Os produtos financeiros irão apresentar uma informação prévia sobre o que são para ajudar os consumidores a compreender as características chave de sustentabilidade, com um maior nível de detalhes para os investidores institucionais.

O pacote também propõe uma regra contra o greenwashing mais geral para cobrir a comercialização de produtos que todas as empresas reguladas pela ARF terão de cumprir.

Lorraine Johnston, uma advogada especializada no sector financeiro na Ashurt (uma empresa de advocacia multinacional), disse que o pacote marca uma mudança significativa na retórica. Esta passa de um incentivo em desviar o dinheiro em investimentos sustentáveis para, agora, minimizar o risco de greenwashing.

“As novas propostas colocam mais peso nos gestores de fundos que estão a tentar fazer a coisa certa, mas que agora enfrentam uma trapalhada de requisitos de divulgação de informações prévias [sobre os fundos]”, disse Lorraine Johnston.

UE também prepara novas medidas

A União Europeia está já a finalizar um pacote de medidas para combater o greenwashing, e os Estados Unidos também estão a escrever novas regras. A ARF explica que as suas propostas são “um ponto inicial” para o regime que irá se expandir e evoluir ao longo do tempo.

“O greenwashing engana os consumidores e provoca uma erosão da confiança em todos os produtos ESG”, disse Sacha Sadan, director do sector governança, social e ambiental da ARF. “Isto coloca o Reino Unido na frente do investimento sustentável a nível internacional.”

Cada empresa é responsável pela forma como usa as novas regras para classificar um dado produto, o que significa que não há nenhum veto do ARF, mas o regulador pode pôr em causa a categorização de qualquer novo fundo submetido a autorização. E disse estar a aumentar as verificações dos produtos sustentáveis.

A consulta pública sobre as propostas está aberta até Janeiro de 2023. As regras serão finalizadas a meio do próximo ano e não serão aplicadas antes de Junho de 2024, para dar tempo à indústria de se ajustar.

Haverá ainda uma outra consulta sobre como o pacote poderá ser aplicado a fundos internacionais, dado que muitos fundos vendidos no Reino Unido estão listados na União Europeia em países como a Irlanda e o Luxemburgo.

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