Costa acusa IL de competir com Chega no lamaçal e diz perceber saída do líder

O primeiro-ministro considera que os liberais adoptaram o estilo de “truculência e má educação” do Chega, acusando a Iniciativa Liberal de ter um “fascínio” pelo partido de André Ventura e de “normalizar” a extrema-direita. Sobre os créditos à habitação, recusa “dramatismo”, mas pede “prudência” ao BCE.

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Costa falou aos jornalistas no ISCTE, em Lisboa EPA/STEPHANIE LECOCQ

O primeiro-ministro afirmou esta segunda-feira perceber a saída de Cotrim Figueiredo da liderança da Iniciativa Liberal (IL), acusando esta força política de competir com o Chega na má educação democrática e no estilo de luta livre no lamaçal.

António Costa fez estas críticas em declarações aos jornalistas no ISCTE, em Lisboa, depois de ter sido interrogado sobre a situação interna existente na Iniciativa Liberal. Para o primeiro-ministro, a saída de João Cotrim Figueiredo “é natural” face à actual situação do partido.

“A Iniciativa Liberal, como já percebemos, decidiu passar a competir com o Chega no estilo de truculência e má educação democrática como intervém no debate público. E percebo que o doutor João Cotrim Figueiredo não se sentisse à vontade nesse estilo de luta livre no meio do lamaçal. Conheço-o bem, admito que não se sinta bem, foi uma opção estratégica que a Iniciativa Liberal fez e, não sei porquê, a direita democrática em Portugal tem um fascínio pelo Chega”, observou.

De acordo com o líder do executivo, a direita democrática, “em vez de se demarcar do Chega para afirmar a sua identidade, tem a voragem de normalizar e conviver com o Chega e de imitar o Chega”.

“Deviam olhar para Itália e ver o que acontece quando os partidos da direita democrática começam a normalizar a extrema-direita. Quando isso acontece acabam a ser liderados pela extrema-direita. Portanto, bom futuro [para os partidos da direita democrática] e continuem com essa estratégia que vão longe”, declarou, numa observação irónica.

António Costa referiu-se ainda ao desempenho de Liz Truss enquanto primeira-ministra do Reino Unido.

“Em quatro dias desvalorizou a libra e obrigou o Banco de Inglaterra a fazer uma subida extraordinária das taxas de juro e a ir resgatar quatro ou cinco fundos privados de pensões. Ela própria acabou demitida pelo seu próprio partido. Por isso, percebo que a Iniciativa Liberal se sinta hoje muitíssimo embaraçada com este espectáculo, numa demonstração prática do que seria a IL a governar em Portugal”, disse.

Em 44 dias, no Reino Unido, na perspectiva do primeiro-ministro, se destruíram “dois mitos da Iniciativa Liberal: o mito do choque fiscal, que foi uma tragédia para a libra e para a credibilidade externa do Reino Unido, e o mito de um sistema de Segurança Social baseado em fundos privados que logo na primeira aflição têm de ser resgatados pelo dinheiro público injectado pelo Banco de Inglaterra”.

Para António Costa, a recente situação no Reino Unido, com a queda de Liz Truss, representou para a Iniciativa Liberal o mesmo que “os comunistas sentiram com a queda do Muro de Berlim”.

Perante os jornalistas, Costa recusou-se a comentar os elogios feitos pelo chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, ao seu antecessor no cargo, Pedro Passos Coelho, dizendo que tem tido a prudência “de nunca falar e de respeitar” quem o antecedeu no cargo de primeiro-ministro.

“Com idade que tem, com certeza que [Pedro Passos Coelho] ainda tem muito para dar ao país. Nós não damos só ao país quando estamos no exercício de cargos políticos - e digo com todo o à-vontade de se saber que eu e o doutor Passos Coelho raras vezes coincidimos sobre o mesmo ponto de vista relativamente àquilo que é melhor para o país”, acrescentou.

Costa recusa dramatismo nos créditos à habitação

Sobre o impacto do aumento dos juros nos créditos à habitação, o primeiro-ministro afirmou que o Governo tem “estado a acompanhar muito proximamente com o Banco de Portugal e com a Associação Portuguesa de Bancos a evolução do crédito”.

E lembrou que o Orçamento do Estado para 2023 “tem uma medida específica que permite o aumento da liquidez das famílias que tenham créditos de habitação em activos, já que essas famílias podem requerer a redução de um escalão na retenção na fonte do IRS”.

O líder do Governo referiu que, por parte dos bancos, tem-se verificado uma vontade de encontrar por via negocial com os clientes “as melhores formas de acomodarem o impacto da subida das taxas de juro”, declarando que o executivo vai aprovar um diploma “que favorece essa negociação e elimina os custos associados a essa negociação”.

“Portanto, acho que devemos encarar sem dramatismo a situação que estamos a viver”, defendeu.

António Costa declarou também que o Banco Central Europeu “deve ser bastante prudente na subida das taxas de juro para controlar a inflação”, mas sustentou que “será possível evitar que esta evolução das taxas de juro tenha consequências dramáticas”.

O primeiro-ministro desdramatizou ainda o facto de a CGTP-IN não assinar esta segunda-feira o acordo sobre evolução salarial e de carreiras na administração pública até 2026.

“Claro que o Governo gostaria muito que a CGTP-IN tivesse assinado este acordo, mas, como é sabido, a CGTP-IN tem por regra não assinar os acordos. Já não assinou o acordo de médio prazo em sede de concertação social e também não assina este”, disse.

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