Maravilhas do Pico: o Lajido de Santa Luzia

A leitora Antónia de Matos Serôdio apresenta-nos a um dos seus lugares favoritos na ilha-montanha.

pico,sao-roque-pico,fugas-leitores,fugas,acores,turismo,
Fotogaleria
Montanha do Pico, Açores ANTÓNIA DE MATOS SERÔDIO
pico,sao-roque-pico,fugas-leitores,fugas,acores,turismo,
Fotogaleria
Lajido de Santa Luzia, Pico, Açores ANTÓNIA DE MATOS SERÔDIO
pico,sao-roque-pico,fugas-leitores,fugas,acores,turismo,
Fotogaleria
Montanha do Pico, Açores ANTÓNIA DE MATOS SERÔDIO
pico,sao-roque-pico,fugas-leitores,fugas,acores,turismo,
Fotogaleria
Ilha do Pico ANTÓNIA DE MATOS SERÔDIO
pico,sao-roque-pico,fugas-leitores,fugas,acores,turismo,
Fotogaleria
Lajido de Santa Luzia, Pico, Açores ANTÓNIA DE MATOS SERÔDIO
pico,sao-roque-pico,fugas-leitores,fugas,acores,turismo,
Fotogaleria
Lajido de Santa Luzia, Pico, Açores ANTÓNIA DE MATOS SERÔDIO

Pico é a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores, duma beleza que só a ela lhe pertence, duma cor admirável e com um estranho poder de atracção. É mais do que uma ilha - é uma estátua erguida até ao céu e amolgada pelo fogo - é outro Adamastor como o do cabo das Tormentas.
Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas

Não é nenhuma novidade que o Pico, a ilha-montanha, é de uma beleza única, sublime e inesquecível. É a ilha da ousadia, da engenharia, onde a natureza se esmerou e a criatividade humana foi levada aos limites.

Com 448 quilómetros quadrados, é a segunda maior ilha do arquipélago dos Açores e aquela onde se situa a mais alta montanha que lhe deu o nome e a mais alta de Portugal, com 2351m. Ainda que partilhe uma identidade comum às outras ilhas do arquipélago (a geografia, o clima, a cultura ou a gastronomia), a ilha tem uma personalidade muito própria, uma especificidade cultural e patrimonial distinta de todas as outras.

O Pico faz da dualidade terra e mar o seu pilar de sobrevivência. Os picarotos são gente rija, corajosa e orgulhosa da sua ilha. Motivos não lhes faltam, pois a ilha é de uma beleza invulgar que nos conquista de forma silenciosa lá do outro lado do mar, no Faial ou em São Jorge, bem antes de lhe pisarmos o chão.

Uma das maravilhas do Pico, ou, talvez, o seu maior segredo, é o Lajido, ou Lajido de Santa Luzia, se falarmos do geossítio. Um pequenino povoado que pertence à freguesia de Santa Luzia, no concelho de São Roque do Pico. Não sendo um dos locais mais divulgados da ilha, já que a atenção se centra muito na montanha, é, ou ficou a ser, um dos meus preferidos. Quase dispensa as palavras e não há imagens que lhe façam justiça.

O cenário, singular, reúne uma paisagem bucólica, vulcânica, que inclui a montanha, sempre dominadora, a imensidão do mar, a vinha, construída pedra a pedra, fruto do trabalho e da persistência humana, e um conjunto habitacional que encaixa na natureza como se a integrasse desde sempre. Uma beleza extraordinária, mas natural, apesar da mão do homem, que se impõe sem se insinuar e em que nada parece deixado ao acaso.

A paisagem típica da ilha do Pico apresenta um vasto conjunto de estruturas e micro-relevos associados ao vulcanismo efusivo, como lavas encordoadas, lóbulos convexos, moldes lávicos de árvores e arqueamentos do topo das escoadas lávicas. O povoado encaixa-se num extenso campo de escoadas lávicas basálticas muito fluidas, emitidas na sua maioria de partes elevadas da montanha do Pico. Dada a morfologia destas lavas, lisa, aplanada e sem grandes irregularidades, recebem a designação de lajido, palavra que pode ser usada como tradução do termo havaiano pahoehoe.

Na nacional ER1, que liga São Roque do Pico à Madalena, perto da estrada que dá acesso ao aeroporto, devem seguir-se as indicações de Lajido de Santa Luzia. Entramos na paisagem geocultural classificada como Património Mundial da UNESCO, repleta dos tradicionais currais de vinha, e chegamos a um pequeno povoado já à beira mar, o lugar de Lajido, um antigo centro habitacional e agrícola, com elementos arquitectónicos bem preservados e ainda melhor recuperados.

Aqui fica situado o Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico que integra o geossítio, promovendo e interpretando esta paisagem geocultural tão peculiar que inclui currais de vinha, adegas, poços de maré, rola-pipas (rampas talhadas na pedra para facilitar o transporte até ao porto) e rilheiras. O geossítio, prioritário do Geoparque Açores, tem relevância nacional e interesse científico, pedagógico, cultural e geoturístico.

O povoado foi alvo de um cuidado e muito bem conseguido plano de recuperação, por parte da Secretaria Regional que tutela o Ambiente, e o casario está harmoniosamente integrado na paisagem. O Centro de Interpretação, as lindas casas particulares e de alojamento local, as adegas, com os respectivos lagares e alambiques, armazéns, os tanques de fermentação dos figos, o Solar dos Salgueiros, os poços de maré, e a Ermida de Nossa Senhora da Pureza são os principais atractivos do Lajido.

Passear por entre as vinhas e a beira-mar, percorrer as ruelas interiores, admirar o casario negro e os apontamentos decorativos que o tornam mais leve, percorrer o trilho das lavas vulcânicas que escorrem até ao mar, é fundamental se quisermos sentir a essência do Pico. A visita não fica completa sem uma passagem pelo Bar do Lajido, onde nos esperam alguns petiscos e o melhor Verdelho da ilha.

É um lugar magnífico pela beleza que agrega. Desperta em nós uma admiração imensa pelo trabalho árduo a que o ser humano se submete para sobreviver nos locais mais improváveis e, em simultâneo, um profundo respeito pela natureza.

Antónia de Matos Serôdio

Sugerir correcção
Comentar