Filipe Martins, o homem que aprendeu a voar

O técnico do Casa Pia, que defronta o Sporting, foi eleito o melhor da I Liga em Setembro, depois de já ter sido o melhor da II Liga.

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Filipe Martins, treinador do Casa Pia LUSA/OCTÁVIO PASSOS

O Casa Pia tem a melhor defesa do campeonato (a par do Benfica) com cinco golos sofridos em nove jogos, está no quarto lugar com 17 pontos e é, das 55 principais ligas da UEFA, a equipa que subiu de divisão com a maior média de pontos por jogo (1,89). Por trás de tudo isto está Filipe Martins, treinador dos casapianos, que neste sábado defrontam o Sporting, em jogo da I Liga.

Com uma carreira de jogador em clubes de divisões inferiores, iniciou de imediato a de treinador mal terminou a de futebolista, há 10 anos, orientando a equipa de sub-13 do Clube Desportivo de Belas.

Depois de aí estar três épocas (em diferentes escalões de formação), rumou ao Real Sport Clube, onde começou por treinar a equipa de sub-17. No ano seguinte passou à de juniores e ganhou a confiança do clube de Massamá para orientar a equipa principal na época 206/17. Como se veria, a aposta foi mais do que acertada.

O Real estava no Campeonato de Portugal, à altura, o terceiro escalão do futebol nacional, e venceu essa competição na primeira época em que foi orientado por Filipe Martins — até hoje, é o único título a nível nacional da história do clube. O técnico garantiu também a primeira subida de sempre do Real à II Liga.

Nessa época, o clube chegou também aos oitavos-de-final da Taça de Portugal, caindo apenas perante o Benfica, por 0-3, depois de ter eliminado o Olhanense, da II Liga, e o Arouca, da I Liga.

Aqui começou a surgir uma tendência das equipas de Filipe Martins, a “defesa de betão”: nos 33 jogos que a equipa realizou no Campeonato de Portugal, sofreu apenas 21 golos.

A estreia do treinador e do clube na II Liga não correu da melhor forma, com o primeiro a sair do clube após três vitórias em 22 jogos, e o segundo a descer de divisão no final da época.

Seguiu-se uma experiência no Mafra, da II Liga, em 2018/19, onde o seu trabalho, após 23 jogos, levou os responsáveis do Feirense a apostarem nele para salvar o clube da descida da I Liga. A estreia de Filipe Martins no campeonato ocorreu frente ao Sporting, com uma derrota por 1-3. Essa época, contudo, não terminaria da melhor forma para os “fogaceiros”, que ficaram em último lugar no campeonato.

Após passar por duas descidas de divisão em dois anos, Filipe Martins recebeu o convite do Casa Pia, uma equipa que tinha feito 11 pontos em 24 jogos na II Liga e que teria descido de divisão não fosse a falta de licenciamento do V. Setúbal e do Desportivo das Aves (ambos da I Liga).

“Quando cheguei ao Casa Pia, tínhamos três, quatro jogadores com contrato”, disse Filipe Martins em entrevista ao Canal 11.

Enquanto festejava a subida do Casa Pia à I Liga em Maio passado, Filipe Martins recordou o seu início no clube: “O que me propuseram foi colocar o Casa Pia, em três anos, na I Liga. Aconteceu ao segundo, o que é óptimo”.

A sua primeira época nos “casapianos” trouxe uma melhoria considerável em relação à anterior, com a equipa a terminar a II Liga no nono lugar. A época seguinte foi marcada, mais uma vez, por uma defesa montada por Filipe Martins difícil de bater.O Casa Pia terminou a II Liga de 2021/22 no segundo lugar, com 22 golos sofridos em 34 jogos, o melhor registo do campeonato.

Essa época, no entanto, trouxe para Filipe Martins também uma batalha longe dos relvados. Em Janeiro deste ano, o técnico foi infectado pela covid-19 e a 17 de Fevereiro foi internado devido a sequelas que o vírus deixara — só voltaria a orientar o Casa Pia no final de Março.

Equipa barata

Esta época, à excepção dos emprestados Romário Baró (pelo FC Porto) e de Yan Eteki (pelo Granada), nenhum jogador do plantel casapiano tem um valor de mercado superior a um milhão de euros, segundo o Transfermarkt.

Jogadores como Ricardo Batista — melhor guarda-redes da I Liga no último mês de Setembro —, João Nunes — central formado no Benfica e que nunca jogara na I Liga —, ou Saviour Godwin — rápido avançado nigeriano que nunca jogara numa primeira divisão — têm apresentado um rendimento desportivo elevado.

Em relação à contratação de jogadores, Filipe Martins explicou na mesma entrevista ao Canal 11 as suas ideias: “Há coisas que os orçamentos não compram, jogadores com carácter, jogadores com compromisso, nem sempre são os jogadores mais caros que os têm”.

No que toca à abordagem à I Liga, Filipe Martins deixou uma garantia, em entrevista à Radio Renascença: “A nossa mentalidade contra os grandes (…) vai ser a de lutar pelos três pontos (…) garanto que não vamos mudar a nossa identidade”. O Sporting está avisado.

Texto editado por Jorge Miguel Matias

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