Desafios no Transporte Rodoviário de Mercadorias

Prevê-se que a mobilidade elétrica nos transportes rodoviários de mercadorias venha a generalizar-se por volta de 2025. O horizonte temporal para a introdução de camiões autonómos está mais longe (2030?)

Seguindo a introdução no mercado automóvel de veículos ligeiros elétricos, começam agora a surgir os primeiros pesados de mercadorias eléctricos. Se pensarmos na pegada ambiental e nos efeitos económicos, com a imparável evolução do preço dos combustíveis, questionar o modo de propulsão dos camiões que, segundo dados do INE, são responsáveis por mais de 60% das nossas importações e exportações, chegando a 75% na UE a 27, é uma questão elementar.

De facto, juntando nesta altura todos os custos por detrás dos transportes, os combustíveis contam com mais de metade desses custos, com repercussão direta nos preços que pagamos por muito do que consumimos. Infelizmente, a autonomia das baterias e a falta de uma rede europeia de carregamento (que vai ser agora construída pelas principais marcas de camiões) ainda não permite que o chamado longo curso possa ser uma realidade imediata, sendo previsível que a partir de 2025 comece a ser economicamente rentável a opção por veículos elétricos para longas distâncias, num fenómeno de geometria variável, conforme o nível de subsidiação que cada país queira dedicar aos camiões elétricos.

E isso vão ser boas notícias, em especial para um país como Portugal, que não produz petróleo e que pertence a um bloco económico onde felizmente o meio ambiente muito conta, sendo as emissões de carbono um custo crescente que não pode deixar de ser levado em linha de conta tanto em termos micro como macroeconómicos.

Considerando a introdução da mobilidade elétrica nos transportes rodoviários de mercadorias como uma realidade que se prevê que venha a generalizar-se a médio prazo, e aqui por médio prazo entende-se por volta de 2025, outro custo operacional existe que vai ser desafiado, que é o próprio condutor, que representará cerca de 20-25% dos custos totais de operação. O horizonte temporal para a introdução de camiões autonómos está mais longe (2030?), mas as já referidas razões económicas, a falta crescente de motoristas e a questão da segurança rodoviária são fatores mais do suficientes para que se esteja a preparar aquilo que vai ser uma verdadeira disrupção na forma como os produtos que consumimos e que abastecem as nossas fábricas são transportados.

É evidente que ainda nos separa desse tempo uma grande evolução tecnológica (em curso), um quadro regulatório pan-europeu, a clarificação de todos os aspetos legais e éticos e, claro, a confiança das pessoas (se um ligeiro sem condutor pode assustar, imagine-se um camião), mas já sabemos que, quando as alterações trazem ganhos acentuados, os timings de implementação são por norma encurtados.

Ou seja, num setor que representa na Europa 75% do total dos transportes, cerca de 75% dos seus custos de operação diretos vão ser seguramente desafiados. Em acrescento, se pensarmos noutros custos operacionais, como a manutenção (menor, num motor elétrico) ou os seguros, menos onorosos nos veículos elétricos, que não explodem, e também nos veículos autónomos, com os quais os acidentes cairão a pique, então pode prever-se que toda a estrutura de custos por detrás dos transportes vai ser positivamente afetada. Há ainda a considerar os benefícios ambientais, mais a previsibilidade dos custos da energia, que pode ser produzida de uma forma limpa na maior parte dos países da União Europeia, com enfoque especial para os países do sul da Europa, como Portugal.

Se incluirmos ainda todas as oportunidades inerentes à transformação digital em curso, nas quais se incluem por exemplo os sistemas inteligentes de gestão de tráfego, as plataformas logísticas integradas e a afirmação definitiva das entregas online, podemos de facto esperar uma revolução na forma como os nossos produtos são transportados, revolução essa que já começou e que está à vista de todos.

Naturalmente que existirão danos colaterais, alguns muito importantes como o desemprego que vai haver entre os motoristas e os acidentes que vão inevitavelmente acontecer, nomeadamente enquanto coexistirem nas estradas veículos guiados por pessoas e veículos autonómos, mas os benefícios económicos e ambientais e a previsibilidade dos custos de operação em muito suplantarão os aspetos negativos, o que significa que a tecnologia, tal como aconteceu na revolução industrial, vai contribuir para um novo salto civilizacional.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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