Centro 25 de Abril em Coimbra acolhe acervo histórico doado por Alexandre Alves Costa

Arquitecto portuense cedeu à instituição 3250 fotografias que documentam a acção do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), em 1974 e 1975, na sequência da Revolução dos Cravos.

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Operação SAAL no Porto, com Álvaro Siza em S. Victor DR

O Centro de Documentação 25 de Abril (CD25A) da Universidade de Coimbra dispõe de um acervo de 3250 fotografias do antigo Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), doadas esta terça-feira pelo arquitecto Alexandre Alves Costa.

“Esta é já a terceira oferta que o arquitecto fez ao Centro”, disse à agência Lusa o director do CD25A, Rui Bebiano, realçando que, depois das doações de 1996 e 2020, esta “é a maior de todas e terá com certeza um impacto grande”.

Alves Costa, que integrou a Comissão Coordenadora do SAAL no Norte do país, recordou que este programa do Estado foi lançado em 1974, na sequência da revolução do 25 de Abril, pelo então secretário de Estado da Habitação, Nuno Portas, “para o realojamento de populações de baixos rendimentos”. “Os moradores pobres, sendo protagonistas assumidos desse processo de construção, tiveram consciência plena de que, para fazerem a cidade, deveriam começar pelas casas e que estas deveriam ser para todos, numa nova Pátria de que lançavam as fundações”, afirmou o doador, num texto disponibilizado pelo CD25A.

Rui Bebiano salientou que o projecto SAAL “foi algo de extremamente positivo que se traduziu em melhoria das condições de vida das pessoas”, na linha de “uma utopia possível”. Em 1974-75, “muitas pessoas ainda viviam em bairros da lata”, sobretudo na zona de Lisboa, e nas chamadas “ilhas”, estas na área do Porto, e era necessário avançar com a “construção de bairros que lhes permitisse ter acesso a uma habitação de qualidade”, explicou Rui Bebiano.

“O SAAL foi como começar pelo princípio de todas as coisas. Antes do direito à cidade, esteve o direito ao lugar, ao lugar da infância e do crescimento, de sedimentação da comunidade vicinal. O direito ao lugar escolhido, recusando a fatalidade da expulsão para as periferias suburbanas da ausência de cidade”, afirmou Alexandre Alves Costa, naquele documento.

Arquitectos e moradores envolvidos no SAAL afrontaram “muitos inimigos”, tendo sido ainda “acusados e caluniados”. “Sofremos atentados terroristas”, recordou o arquitecto, que terminou a carreira académica como professor catedrático da Faculdade de Arquitectura do Porto e do Departamento de Arquitectura (Darq) da Universidade de Coimbra (UC).

Na sua opinião, o debate lançado pelo SAAL há quase meio século, no contexto da Revolução dos Cravos, “está de novo aberto com toda a acuidade, sobretudo a partir da situação vivida pelos novos moradores pobres das grandes cidades – sobretudo os cada vez mais pobres, de novo e por outras razões a serem expulsos da cidade – e os imigrantes”. “Todos eles –​ acrescenta o arquitecto – nos dão uma nova convicção de valer a pena continuarmos a luta por casas para todos contra o capital, como se dizia nesses inesquecíveis dias que vivemos, durante o processo revolucionário”, que se seguiu ao derrube do fascismo, em 1974, pelo Movimento das Forças Armadas (MFA).

A apresentação pública e a formalização da doação ao CD25A do espólio fotográfico que pertenceu a Alexandre Alves Costa realizam-se na tarde desta terça-feira, às 17h30, no Arquivo da UC.

Além de Rui Bebiano e do doador, a quem cabe fazer uma apresentação comentada das imagens, intervém na sessão o arquitecto e docente universitário José António Bandeirinha, em representação do Darq.

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