Falar línguas diferentes pode significar que também tomamos decisões diferentes

Cientista da Universidade de Coimbra já tinha mostrado que quem fala duas línguas toma decisões diferentes de quem só fala uma. Agora, vai procurar perceber o que leva a que estas diferenças na tomada de decisão existam.

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Perceber a diferença nas decisões entre quem fala só a língua nativa e quem fala outras línguas pode ajudar a evitar conflitos Yves Herman/REUTERS

Desvendar os impactos que o conhecimento e o uso de diferentes línguas podem ter na tomada de decisão, em domínios políticos, sociais e económicos, é o objectivo de uma investigação em curso na Universidade de Coimbra (UC). “Vamos investigar de que forma a língua nativa e o bilinguismo influenciam as decisões que tomamos e como influenciam comportamentos, nomeadamente estratégias de decisão ou raciocínio”, explica, em comunicado, Leona Polyanskaya, investigadora e coordenadora do projecto.

A investigação pretende também descobrir o que leva as pessoas a tomar decisões diferentes “mesmo quando têm a mesma informação”, sublinhou a investigadora do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde da UC e da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da mesma universidade.

Leona Polyanskaya argumenta que, se se souber como as diferentes línguas influenciam as tomadas de decisão, “este novo conhecimento terá a capacidade de prevenir potenciais conflitos”. O projecto envolve participantes de vários países que falem fluentemente uma ou duas línguas e idiomas (castelhano, catalão, basco, turco, alemão ou português, entre outros), resultando numa pluralidade de contextos culturais que estão na base da investigação sobre diferentes tomadas de decisão.

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Leona Polyanskaya, investigadora da Universidade de Coimbra e coordenadora do projecto Paulo Amaral/Universidade de Coimbra

“Actualmente, a mobilidade das pessoas pelo mundo tem vindo a aumentar, o que faz com que os falantes de diferentes línguas mudem de país para país, de continente para continente, o que resulta numa constante mudança do panorama linguístico. E esta mudança pode afectar a tomada de decisões, a nível individual e colectivo, e essas dinâmicas podem ter impacto na política, economia, desenvolvimento social, e isso afectará o nosso futuro”, frisa Leona Polyanskaya.

Intitulado TypoMetaLing: Effect of linguistic experience on metacognition in language tasks and transfer to non-linguistic behavior, o projecto conquistou recentemente um financiamento de 1,5 milhões de euros do Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês).

Ao longo dos últimos anos, Leona Polyanskaya tem procurado aprofundar este tema, “tendo conseguido demonstrar, em projectos anteriores, que bilingues e monolingues tomam decisões de forma diferente”.

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