O que têm em comum Alex Jones e Gustavo Santos?

Por mais desumanas e macabras que tenham sido as palavras de Alex Jones, a verdade é que não matam ninguém. Por outro lado, quem tem um discurso aberto, claro e descarado contra as vacinas da covid está a matar pessoas.

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Alex Jones (à esquerda) e Gustavo Santos Reuters/SIC

Não sei se estão a ver qual é a ligação. Nem sei se há, mas gostava que houvesse. Em comum dizem mentiras graves para as suas audiências, o que os difere é que um é condenado e o outro tem saído impune.

Alex Jones negou nos seus meios de informação, cheios de teorias da conspiração, o massacre de Sandy Hook, onde, em 2012, foram assassinadas 20 crianças e seis adultos. Ora este senhor vem dizer que não aconteceu. E diz que os pais das crianças eram actores, com intenção de fazer propaganda contra o uso das armas, e por isso encenaram a morte destas crianças...

Um dos pais das vítimas, e bem, achou este comportamento de tal forma sinistro e repugnante que pôs Alex Jones em tribunal e ganhou a causa. Agora, a indemnização a pagar, que estava nos 45 milhões de euros, passa para cerca de 965 milhões de euros por se estender às diferentes famílias das vítimas. O que Alex Jones fez merece uma adjectivação que nem vem no dicionário. Dizer que os pais estavam a fingir a morte dos seus filhos é algo que ultrapassa qualquer mente humana.

E qual é a ligação a Gustavo Santos? Fugiu-lhe a boca para a verdade, ou para a mentira, e é apanhado na Fnac, ao lado da ex-líder dos ex-Médicos pela Verdade, a gabar-se de ter usado muitos testes falsos da covid-19. O que é cómico nesta história é que em semana de esclarecimentos e desmentidos, depois vem dizer que os testes que fez eram verdadeiros, mas que os testes verdadeiros são falsos, porque, segundo ele, não há assintomáticos com o vírus SARS-CoV2. São verdadeiros mas são falsos... Estão a ver a lógica?

Mas será isto assim tão grave? Não. Isto é apenas uma patetice dos “rebeldes, revolucionários e resistentes” que andaram a falsificar os testes. O que é mesmo muito grave é o que ele disse e o que tantos outros negacionistas da ciência disseram no decorrer da pandemia e o que dizem ainda hoje. Têm saído frases desta gente como a “pandemia é a maior fraude da história”, “as vacinas são para controlar a população”, “não ouçam a ciência, sintam a vossa própria razão”... Dá logo vontade de dizer para saltarem de um penhasco, e sintam a sua “razão”, a ver se ganham à lei da gravidade. Ou, então, que construam hospitais baseados apenas e só no que cada um sente, e não no saber cientifico.

Mas então qual é a ligação a Alex Jones? É que por mais desumanas e macabras que tenham sido as palavras de Alex Jones, a verdade é que não matam ninguém. Por outro lado, quem tem um discurso aberto, claro e descarado contra as vacinas da covid está a matar pessoas. Segundo a revista The Lancet, que é uma das revistas médicas mais conceituadas do mundo, de Dezembro de 2020 a Dezembro de 2021, as vacinas da covid-19 terão salvado cerca de 20 milhões de pessoas.

Então, quem apregoa contra a ciência, contra medicamentos que evitam mortes em números tão expressivos, é o quê? Que nome se dá a estas pessoas? E que pena merecem pagar? Se Alex Jones terá de pagar 965 milhões por desrespeito a quem morreu, quanto teria de pagar alguém que apregoa aos quatro ventos teorias da conspiração contra a ciência, que tem uma solidez inquestionável, e que com mentiras leva a mortes que seriam evitáveis?

Sejam as vacinas, sejam as alterações climáticas, tem de haver uma moldura penal que seja paralela ao mal que esta gente faz a toda a humanidade ao negar os saberes científicos que nos protegem a todos.

É vital e é urgente que se proteja a ciência, que é a única solução para os problemas que temos em comum.

A razão da ciência e a bondade do coração.

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