Cinco anos de silêncio

A família e amigos da jornalista Daphne Caruana Galizia, Malta e a Europa esperam há cinco longos anos por respostas. Quem tem interesse em virar a face ao flagelo da corrupção sistemática em Malta?

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Memorial em honra de Daphne Caruana Galizia perto do local onde foi assassinada DARRIN ZAMMIT LUPI / REUTERS

1. Malta, uma tarde amena, bela, típica do final do longo Verão. O sol que brilhava num céu imenso ensombrou-se com uma terrível explosão. Faz hoje cinco anos. Daphne publicou um texto no blogue, pegou nas chaves, saiu de casa, entrou no carro, conduziu alguns metros e depois aconteceu... A explosão ressoou por toda a ilha. A jornalista de investigação Daphne Caruana Galizia foi assassinada. Em pleno século XXI, numa democracia da União, mataram uma jornalista que denunciava, com abundância de provas, a corrupção do Governo.

O texto do seu blogue foi a sua última mensagem, mas certamente não foi a sua última palavra. Desde então, e por causa dela, um primeiro-ministro socialista e dois ministros tiveram de demitir-se. Nesse dia trágico, abriu-se uma ferida no inconsciente colectivo maltês. Malta, com o seu omnipresente governo socialista, tornou-se um problema estrutural de violação do Estado de direito para a Europa.

2. ​A família e amigos de Daphne Caruana Galizia, Malta e a Europa, esperam há cinco longos anos por respostas. Os julgamentos dos outros assassinos e do “cabecilha” foram atrasados por inúmeras manobras dilatórias. Cinco anos depois, não sabemos nada da investigação sobre o envolvimento de políticos no assassinato. Não sabemos se a polícia maltesa confiscou o telemóvel e o computador do Vice-Chefe da Polícia maltês que supostamente passava informações sobre o assassinato ao autor do crime.

Apesar da protecção política que os Socialistas no Parlamento Europeu deram ao Governo maltês, há ainda muitas questões por responder. O silêncio é ensurdecedor. A verdade e a justiça em Malta continuam bloqueadas; a obstrução à justiça é sistemática e asfixiante. Mantém-se a impunidade ao mais alto nível. Daphne Caruana Galizia publicou uma quantidade colossal de provas de corrupção sobre o antigo primeiro-ministro socialista Joseph Muscat, o seu chefe de gabinete, Keith Schembri, e o ministro Konrad Mizzi. Até hoje, nem um só processo foi aberto contra eles.

3. Há mais de um ano, um inquérito oficial independente revelou que o próprio Estado de Malta é responsável pelo assassinato desta jornalista. Um Estado que é considerado responsável pelo assassinato de uma jornalista encontra-se, por definição, em grave violação do Estado de direito. Mas o Estado maltês não tomou qualquer medida significativa para executar as várias recomendações resultantes do inquérito. Quem tem interesse em virar a face ao flagelo da corrupção sistemática em Malta?

E os Socialistas no Parlamento Europeu? Porque continuam inertes? Estão confortáveis com o facto de o Partido Socialista Maltês continuar a fazer parte do seu Grupo? A última vez que a sua líder Iratxe Gárcia Pérez viajou para Malta, evitou mencionar o nome de Daphne Caruana Galizia quando estava ao lado do primeiro-ministro Robert Abela. E o comissário Frans Timmermans? Quando foi a última vez que falou sobre este caso?

Muitas perguntas sem resposta dos Socialistas Europeus. Por nós, membros do PPE e decerto por todos os que amam a liberdade de imprensa e a democracia, Daphne não será esquecida. E Malta e o povo maltês não serão esquecidos. Já amanhã, teremos um novo debate no plenário de Estrasburgo. Daphne precisa de nós, a liberdade de imprensa precisa de nós.

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