Quando somos pequenos...

Um caso de teatro infantil fantasioso q.b. e inteligente sem deixar de ser didáctico é suficientemente raro para que seja obrigatório chamar a atenção para as sessões familiares deste fim-de-semana na Culturgest.

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Patrícia Blázquez

É decididamente imparável este Ricardo Neves-Neves: ainda há dias escrevia eu sobre a sua encenação de uma ópera bufa, Canção do Bandido, e ei-lo agora com uma peça de teatro para a infância, isto além de ser ele próprio dramaturgo!

No caso importa contudo começar pelo princípio, de modo duplo aliás: pelo texto de Ana Lázaro e desde logo pela sua fala inicial. “Quando somos pequenos tudo nos parece gigantesco”.

Catamarã é o nome de uma menina que sonha viver numa ilha do Pacífico. E Catamarã, a peça, aborda o crescimento, o deixarmos de ser “pequenos” pelo prisma da aprendizagem. Por que precisamos das palavras? Quais as letras necessárias? Por que há o que nos dizem serem erros ortográficos? Como se relacionam as palavras com os objectos? E para que servem os números? Por que é também pela matemática que nos relacionamos com o mundo? E qual a sua lógica, a sua música?

Em suma, em Catamarã – Nas Ilhas Salomão Ninguém Se Preocupa Com Os Erros Ortográficos não estamos apenas com uma dessas fantasias de “quando somos pequenos…”, mas com um modo fantasioso de sugerir o que de difícil pode ter uma aprendizagem, e também do prazer que o conhecimento pode ser.

Duas observações contudo: 1) a parte sobre os antípodas, com um globo terrestre, em si mesma divertida, pode contudo ter um nível de complexidade e de inteligibilidade excedentário; 2) mesmo que ocorra apenas por breves momentos, é de todo dispensável uma representação mais tipificadamente “infantilizante” (os actores são Susana Madeira e Vítor Oliveira, mas o reparo diz respeito à encenação).

Um caso de teatro infantil fantasioso q.b. e inteligente sem deixar de, à sua maneira, ser também didáctico é suficientemente raro para que se chame a atenção para as sessões familiares deste fim-de-semana na Culturgest: este sábado às 16h, no domingo às 11h e às 16h.

E ainda a propósito do “imparável” Ricardo Neves-Neves: Banda Sonora, o notável espectáculo que estreou em Março no São Luiz, vai ser reposto em Março do próximo ano, mas desta vez irá também visitar o Teatro Municipal Rivoli, no Porto, e o Cine-Teatro Louletano. É caso de júbilo.

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