O maior peixe ósseo do mundo foi descoberto nos Açores

Um exemplar de peixe-lua Mola alexandrini com 2744 quilos foi encontrado ao largo do Faial. Agora os cientistas querem saber se as outras duas espécies destes animais também andam pelo arquipélago.

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O peixe-lua recuperado na ilha do Faial, em Dezembro de 2021 Naturalistas do Atlântico

A espécie de peixe ósseo mais pesada do mundo é a Mola alexandrini e o exemplar mais pesado alguma vez descoberto foi encontrado morto e a flutuar perto da ilha do Faial, nos Açores. Pesava 2744 quilos, com 3,59 metros de altura e 3,25 metros de comprimento, diz a equipa de cientistas portugueses e estrangeiros que o recolheu e estudou, e que descreve a descoberta na revista Journal of Fish Biology.

“Conhecia-se há muito tempo uma espécie de peixe-lua, a Mola mola. Está em todo o lado, havia um exemplar no Oceanário de Lisboa [que morreu este ano]. Só mais recentemente se determinou que há três espécies. Apenas em 2018 se conseguiu determinar que existia esta terceira espécie, Mola alexandrini, que é a que cresce mais”, disse ao PÚBLICO José Nuno Gomes Pereira, da associação Naturalistas do Atlântico e o primeiro autor do artigo.

“Este não é o maior peixe do mundo, esse é o tubarão-baleia”, precisa José Nuno Gomes Pereira. “Mas os tubarões são peixes cartilaginosos. O peixe-lua é um peixe ósseo, como a corvina, por exemplo”, explica.

Até agora, o maior exemplar de peixe-lua Mola alexandrini alguma vez detectado era uma fêmea capturada em 1996 em Kamogawa, no Japão, com 2300 quilos. “Agora o recorde é dos Açores”, diz José Nuno Gomes Pereira, cuja associação é uma organização não-governamental de investigação, conservação e educação, estabelecida em 2018 no Faial.

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A espécie de peixe-lua que se conhece há mais tempo é a Mola mola, que existe no Oceanário Daniel Rocha

A descoberta foi relatada agora no artigo científico, mas o animal foi detectado à deriva a 9 de Dezembro de 2021 pelas autoridades locais e o cadáver recuperado. Os trabalhos foram acompanhados por investigadores da Associação de Naturalistas do Atlântico e da Universidade dos Açores, no âmbito da Rede de Arrojamentos de Cetáceos dos Açores. Foram recolhidos dados biométricos e morfológicos, e fizeram análises moleculares e ao conteúdo do estômago (estava vazio). O cadáver do animal foi erguido com uma empilhadora para poder ser pesado.

Comedores de alforrecas

“Contactámos a equipa que descreveu esta espécie inicialmente em 2018, um cientista japonês e uma neozelandesa”, que assinam também o artigo, explica José Nuno Gomes Pereira.

O peixe-lua tinha uma contusão de forma semicilíndrica com cerca de 12 centímetros de profundidade na zona da cabeça. A depressão tinha vestígios de uma tinta normalmente usada na quilha de navios. A contusão deve ter sido causada por um impacto, embora seja difícil de dizer se ocorreu antes ou depois da morte do animal – a causa da morte não foi determinada.

Estes peixes vivem nos mares tropicais e temperados, por isso está um pouco por todo o lado. Mas sabe-se pouco sobe os seus hábitos. De vez em quando aparece nos Açores, bem como na Madeira, ilhas Canárias e Cabo Verde. No Algarve também aparecem. “Agora estamos a fazer estudos para determinar se nos Açores temos só a espécie Mola alexandrini ou se também aparecem as outras duas [Mola mola e Mola tecta]”, diz José Nuno Gomes Pereira.

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O peixe-lua encontrado no Faial tinha uma contusão na zona da cabeça Naturalistas do Atlântico

Apesar de serem peixes muito grandes, os peixes-lua têm uma alimentação pobre em calorias: especializaram-se em organismos gelatinosos. “Medusas, alforrecas”, exemplifica. Não é nada inédito que animais de grande porte optem por uma alimentação frugal. “Veja-se as baleias que se alimentam de krill [organismos microscópicos], não andam a correr atrás dos atuns”, exemplifica José Nuno Gomes Pereira. “São estratégias de sobrevivência.”

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