Serguei Surovikin: o novo comandante russo que foi condecorado depois da brutalidade na Síria

O homem que Putin colocou à frente da guerra na Ucrãnia é alvo das sanções ocidentais e já esteve preso duas vezes - uma por mandar assassinar manifestantes russos e outra por tráfico ilegal de armas.

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O general Serguei Surovikin com o Presidente Vladimir Putin Sputnik/Reuters

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, nomeou Serguei Surovikin como novo comandante para a sua “operação militar especial na Ucrânia” depois dos últimos reveses no terreno e dos sinais de crescente descontentamento entre as elites sobre a forma como o conflito está a ser conduzido.

O general, nascido em 1966 na cidade siberiana de Novosibirsk, foi, nos últimos anos, líder das Forças Aeroespaciais russas e tornou-se mais conhecido por ter comandado as tropas russas na Síria, em 2015. Na altura, foi considerado um “herói” da Federação Russa e um militar “impiedoso”, de acordo com um relatório da Fundação Jamestown, um think tank de política de defesa norte-americano.

Sob o seu comando, o panorama geral da guerra na Síria mudou: apoiou o Governo de Bashar al-Assad, que recuperou mais de 50% do controlo do país até o final de 2017, depois de uma série de campanhas militares bem-sucedidas – mas viu-se envolvido nas acusações de uso de armas químicas. O militar também é acusado de ter supervisionado os bombardeamentos que destruíram grande parte da cidade de Aleppo. A Human Rights Watch diz que o general Surovikin é um dos comandantes militares que “terão de assumir responsabilidades pelas violações cometidas durante a ofensiva de 2019-2020 em Idlib, na Síria”.

O general, de 55 anos, é um veterano da guerra civil no Tajiquistão na década de 1990, da segunda guerra na Tchetchénia na década de 2000. Até este mês, era o responsável pelo grupo de forças Sul na Ucrânia, de acordo com um relatório do Ministério da Defesa russo, citado pelo jornal The Guardian.

Surovikin esteve preso duas vezes. A primeira durante seis meses, depois de um grupo de soldados sob o seu comando terem matado três manifestantes na capital russa, Moscovo, durante o golpe de Agosto de 1991, que precedeu o fim da União Soviética – acabou por ser libertado sem julgamento. Quatro anos depois, voltaria a ter problemas com a justiça, desta vez por comérico ilegal de armas, mas a sentença seria revogada.

“Surovikin fez carreira nos altos escalões do Estado-Maior e do Ministério da Defesa após 2008, durante a reforma militar radical que exigia crueldade. A sua prontidão para executar vigorosamente quaisquer ordens foi notória”, pode ler-se no relatório do think thank norte-americano.

Há alguns meses, o Ministério da Defesa do Reino Unido deixou um comentário sobre esta nova escolha de Putin. Afirmaram que “por mais de 30 anos, a carreira de Surovikin foi perseguida por alegações de corrupção e brutalidade”. Em Fevereiro de 2022, o seu nome foi adicionado à lista de sanções da União Europeia.

A nomeação ocorreu no sábado, depois da demissão de dois altos comandantes militares russos, em consequência da reconquista pelas forças ucranianas de territórios perdidos para a Rússia, nas regiões nordeste e sul da Ucrânia. Veio também na sequência do atentado contra a Ponte Kerch – um elo fundamental entre a Rússia e a Crimeia, que a Rússia anexou em 2014. Este ataque foi semelhante aos que Surovikin enfrentou na Síria e é uma das explicações para a sua escolha para o cargo.

“Surovikin é uma pessoa lendária; nasceu para servir fielmente à pátria”, disse Yevgeniy Prigozhin, empresário de São Petersburgo que fundou o grupo militar privado Wagner e recrutou prisioneiros para servirem como mercenários e reforçar as fileiras russas na Ucrânia, em comunicado. “Todos nos lembramos dos acontecimentos na Casa Branca [sede do Governo soviético e actualmente da Federação Russa] em Agosto de 1991. Surovikin foi o oficial que recebeu uma ordem e sem hesitação entrou num tanque e correu para salvar o seu país”, acrescentou.

“Ele é conhecido por ser bastante duro e cruel, o que o torna num comandante pouco agradável de se ter, pelo que entendo”, disse Prigozhin. “No entanto, quando um comandante está a ser escolhido, o importante não é sequer a perspicácia táctica ou a impressão sobre os seus soldados, mas sim a que tem sobre os superiores - juntamente com a percepção de que está preparado para travar uma guerra real”, concluiu.

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