Merkel diz não ter arrependimentos sobre ligações comerciais com a Rússia

Em 2021, 55% das importações de gás da Alemanha vieram da Rússia, em parte como resultado dos laços comerciais estabelecidos por Merkel com este país e do apoio ao controverso gasoduto Nord Stream 2, mesmo depois de Moscovo anexar a Crimeia em 2014. Merkel disse, em Lisboa, que não se arrepende das decisões que tomou.

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Merkel, como presidente do júri, esteve em Portugal para anunciar o vencedor do Prémio Gulbenkian para a Humanidade EPA/ANDRE KOSTERS

A ex-chanceler alemã Angela Merkel disse esta quinta-feira que não se arrepende do rumo que o seu Governo tomou no que diz respeito à política energética e às relações com a Rússia enquanto esteve no poder, acções que muitos dizem ter deixado a maior economia da Europa muito dependente do gás russo.

A Alemanha e outros países europeus estão, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em Fevereiro, a tentar reduzir ou acabar com a dependência do petróleo e gás russos. No ano passado, 55% das importações de gás da Alemanha vieram da Rússia, em parte como resultado dos laços comerciais estabelecidos por Merkel com a Rússia e do apoio ao controverso gasoduto Nord Stream 2, mesmo depois de Moscovo anexar a Crimeia em 2014.

“Agimos sempre conforme a altura em que nos encontramos”, disse Merkel aos jornalistas em Lisboa, depois de questionada sobre a abordagem do seu governo em relação à Rússia. Merkel falou à margem de um evento para anunciar o vencedor do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, do qual foi presidente do júri.

Merkel, que se aposentou da política no ano passado depois de 16 anos como chanceler, disse que nunca acreditou no lema “wandel durch handel” (em português, “mudança através do comércio”). “Neste aspecto, não me arrependo das decisões que tomei, acredito que foi o correcto do ponto de vista da época [em que nos encontrávamos]”, referiu, acrescentando que o gás russo barato permitiu à Alemanha avançar com a eliminação gradual da energia nuclear e do carvão, ainda que este plano esteja agora em pausa à medida que o país procura substituir as entregas de gás da Rússia.

A inflação alemã, impulsionada em grande parte pelo aumento dos preços da energia, situa-se agora em 10,9% e o Governo comprometeu-se a gastar milhões de euros em ajudas às famílias e às empresas para pagarem as facturas da energia, que não param de aumentar.

O projecto do gasoduto Nord Stream 2, projectado para duplicar as importações de gás da Rússia para a Alemanha através do Mar Báltico, foi colocado na gaveta nos dias que antecederam a invasão da Rússia à Ucrânia. “Esta invasão brutal da Rússia trouxe uma mudança, foi um ponto de viragem”, disse Merkel, em referência à política energética da Alemanha.

A ex-chanceler disse ainda que o novo Governo da Alemanha, liderado pelo social-democrata Olaf Scholz, terá que lidar com estes novos desafios.

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