Expedição na costa portuguesa procura perceber as alterações climáticas do passado

A expedição é liderada pelo britânico David Hodell e pela portuguesa Fátima Abrantes. “Esta expedição será uma das mais importantes para futuros estudos de paleoclima”, frisa a investigadora.

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Chegada a Lisboa do navio Joides Resolution, do programa internacional de perfuração dos fundos oceânicos Marta Rufino/IPMA
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O Joides Resolution, navio do programa internacional de perfuração dos fundos oceânicos DR

Mais de duas dezenas de cientistas internacionais iniciaram esta quinta-feira uma expedição na costa portuguesa para investigar sedimentos marinhos e através deles perceber como se processaram as alterações climáticas há milhares de anos.

A expedição é uma iniciativa do Programa Internacional para a Descoberta do Oceano (IODP), uma organização científica de investigação marinha que estuda a dinâmica do planeta recuperando dados registados em sedimentos e rochas do fundo do mar.

Num comunicado a propósito da Expedição 397, a bordo do navio Joides Resolution, do programa internacional de perfuração dos fundos oceânicos IODP, os organizadores notam que as temperaturas estão a subir e que o planeta está a viver um momento em que o clima global está a mudar, sendo necessário entender o que vai acontecer a seguir.

“Por vezes, para conhecermos o futuro, temos de olhar para o passado. A Expedição 397 visa recolher testemunhos de sedimentos marinhos ao largo da costa de Portugal que irão fornecer dados de alta resolução sobre as variações do clima antigo da Terra”, explicam os responsáveis, acrescentando que quanto mais se entenderem os ambientes do passado mais fácil será avaliar como o planeta está a mudar hoje e como vai mudar no futuro.

Segundo o comunicado, a expedição decorre até meados de Dezembro e realiza-se ao largo da costa a sudoeste de Lisboa. Os 26 cientistas irão investigar áreas onde os sedimentos marinhos se acumulam rapidamente, permitindo um registo altamente fiável das alterações climáticas em escalas temporais de centenas a milhares de anos, podendo retroceder até três a seis milhões de anos.

Explica-se no comunicado que os sinais climáticos da margem ibérica serão depois comparados com os recolhidos no gelo dos dois hemisférios, fornecendo uma ligação entre as alterações oceânicas e atmosféricas, incluindo a concentração de gases com efeito de estufa.

A expedição é liderada por David Hodell, da Universidade de Cambridge, e por Fátima Abrantes, investigadora principal do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). “É maravilhoso ter esta oportunidade – antes de me reformar – de concretizar um sonho que começou nos primeiros anos da minha carreira. Considero que esta expedição será uma das mais importantes para futuros estudos de paleoclima”, realça Fátima Abrantes, citada no comunicado do IPMA.

Os cientistas vão recolher amostras sedimentares em diferentes profundidades, entre 1300 e 4700 metros abaixo do nível do mar, o que lhes vai permitir estudar a forma como a circulação em profundidade e a química do oceano mudaram no passado, incluindo o seu papel no armazenamento de carbono em águas profundas e nas alterações do dióxido de carbono atmosférico.

A maioria dos sedimentos no mar profundo acumula-se a taxas relativamente lentas, um a dois centímetros a cada mil anos, mas os sedimentos na zona que os cientistas vão trabalhar são depositados em mais quantidade (dez a 20 centímetros a cada mil anos).

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