Regiões com os melhores solos a nível mundial estão mal protegidas

Investigação liderada por cientista português analisou 615 amostras de solo dos vários continentes.

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É nas florestas temperadas que o solo é mais rico em termos de biodiversidade Paulo Pimenta

Um estudo global que mediu a riqueza da biodiversidade dos solos e as suas qualidades em termos dos serviços ecológicos que prestam mostrou que a maioria das regiões com solos de qualidade não está dentro de áreas protegidas. Publicado nesta quinta-feira na revista Nature, o trabalho foi liderado por um investigador português que trabalha na Alemanha e conta ainda com a colaboração de cientistas da Universidade de Coimbra.

A investigação incluiu mais de 10.000 observações de organismos indicadores de biodiversidade (como invertebrados, fungos, protistas e bactérias) e serviços de ecossistemas em 615 amostras de solos de todos os continentes, incluindo a Antárctida.

A equipa de investigadores concluiu que diferentes qualidades dos solos estão exacerbadas em diferentes regiões do planeta. Enquanto solos com alta biodiversidade são frequentes em regiões temperadas, os solos das regiões mais frias são mais competentes na realização de serviços ecológicos como a absorção de dióxido de carbono. Já nos trópicos, há uma grande diversidade entre solos que estão geograficamente próximos.

“Quando se escava no solo europeu, por exemplo numa floresta, vai-se encontrar muitas espécies diferentes num mesmo local. Quando se viaja para uma outra floresta que está a alguns quilómetros de distância, embora as espécies sejam diferentes, elas são semelhantes”, diz Carlos Guerra, que liderou o trabalho, e trabalha na Universidade de Leipzig, na Alemanha. “Isto não acontece nos trópicos, onde comunidades completamente diferentes surgem a poucos quilómetros de distância”, explica, citado num comunicado.

A partir desta avaliação, o estudo identifica as regiões do mundo que deveriam ter a maior prioridade para a conservação da natureza do solo. Estas regiões estão localizadas nos trópicos, na Ásia, na América do Norte e na Europa.

“Para conservar melhor os valores ecológicos do solo, devemos saber onde a sua protecção é mais necessária. No caso de plantas e animais acima do solo, os hotspots de biodiversidade foram identificados há décadas. No entanto, até agora nenhuma avaliação foi feita para obter os valores ecológicos do solo”, explicam Alexandra Rodríguez e Jorge Durán, investigadores do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, citados numa nota da Universidade de Coimbra.

Para o trabalho, os cientistas enviaram amostras de solo tanto de Portugal como da Antárctida.

“A maioria dos alimentos que consumimos vem do solo directa ou indirectamente. Proteger esses solos é essencial para a nossa sobrevivência”, consideraram.

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