Conferência dos bispos do Brasil “condena veementemente o uso da religião” na campanha eleitoral

A mais importante organização da Igreja Católica lamenta “a intensificação da exploração da fé” para “angariar votos”. Bolsonaro foi muito criticado por participar no domingo no Círio da Nazaré, procissão naval em Belém do Pará.

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A religião tem sido um tema de campanha nesta segunda volta UESLEI MARCELINO/Reuters

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), principal instituição da Igreja Católica no país, condenou esta terça-feira a exploração da religião na segunda volta da campanha para as eleições presidenciais, disputada por Jair Bolsonaro e Lula da Silva.

“Lamentamos, neste momento de campanha eleitoral, a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos na segunda volta”, lê-se num comunicado.

“Momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha e demais assuntos relacionados às eleições. Desse modo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamenta e reprova tais acções e comportamentos”, acrescenta.

O texto não cita nenhum candidato, mas na semana passada Jair Bolsonaro, actual Presidente e que tenta a reeleição, foi duramente criticado por fazer uso político do Círio de Nazaré, uma procissão naval católica que reuniu milhares de pessoas em Belém do Pará, no norte do Brasil.

Além disso, o Presidente brasileiro anunciou que iria participar esta quarta-feira na homenagem à Nossa Senhora de Aparecida no interior do estado de São Paulo, numa grande cerimónia católica que reúne milhares de pessoas anualmente.

“A manipulação religiosa sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com a verdade e com o Evangelho”, consideram os bispos católicos.

“Ratificamos que a CNBB condena, veementemente, o uso da religião por todo e qualquer candidato como ferramenta de sua campanha eleitoral. Convocamos todos os cidadãos e cidadãs, na liberdade de sua consciência e compromisso com o bem comum, a fazerem deste momento oportunidade de reflexão e proposição de acções que foquem na dignidade da pessoa humana e na busca por um país mais justo, fraterno e solidário”, concluiu.

A religião é um dos temas centrais das presidenciais brasileiras e tem sido campo de batalha dos apoiantes de Bolsonaro contra Lula da Silva. Os bolsonaristas têm usado as redes sociais para divulgar informações falsas sobre a alegada intenção do ex-Presidente e candidato Lula da Silva de fechar igrejas se ganhar as eleições, ao mesmo tempo que o associam ao satanismo, algo que obrigou a própria campanha a emitir um comunicado a dizer que Lula “não fez pacto com o demónio”.

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