Líder de Taiwan avisa que não vai ceder no modo de vida democrático

No Dia Nacional de Taiwan, a Presidente Tsai Ing-wen traçou um paralelo com a invasão russa da Ucrânia, reiterando que o país não vai ceder no modo de vida democrático. Os cidadãos da região começaram a receber treino militar para enfrentar uma possível incursão chinesa.

Foto
No ano passado, Taiwan registou um recorde de 969 incursões aéreas militares chinesas Reuters/ANN WANG

A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, avisou, esta segunda-feira, que a ilha não vai ceder no seu modo de vida democrático às ordens de Pequim. No discurso proferido por ocasião do dia nacional, a líder afirmou: “O mais amplo consenso entre o povo de Taiwan e os nossos partidos políticos é de que devemos defender a nossa soberania nacional e o nosso modo de vida livre e democrático.” “Neste ponto, não deixamos margem para compromissos”, acrescentou.

No discurso, Tsai Ing-wen fez ainda um paralelismo com a invasão russa da Ucrânia, que reavivou as preocupações em Taiwan sobre uma ofensiva idêntica por parte de Pequim, comparando a acção russa com o objectivo chinês de, um dia, assumir o controlo de Taiwan, uma ilha com 23 milhões de habitantes.

“Não podemos ignorar os riscos que estas expansões militares representam para a ordem mundial livre e democrática. Estes desenvolvimentos estão indissociavelmente ligados a Taiwan”, sublinhou. A China considera a ilha, que tem um Governo autónomo, parte do seu território, a ser recuperada um dia, se necessário pela força, caso Taipé declare formalmente a independência.

Em simultâneo, os cidadãos taiwaneses estão a ser treinados para fazer frente ao crescente desejo doméstico de que os civis estejam mais bem preparados para uma possível invasão chinesa. As autoridades da ilha continuam a enfatizar que preferem resolver o conflito através de meios pacíficos, mas lidam diariamente com um povo que se opõe à unificação e à rendição — algo que o Governo autónomo promete não fazer.

Esta preparação militar dos cidadãos surge de uma doação de mil milhões de dólares taiwaneses (cerca de 32 milhões de euros) por parte do empresário Robert Tsao, tendo em vista a preparação de “três milhões de pessoas em três anos” e de 300 mil atiradores para a criação de uma milícia civil. O curso inclui estudos de geopolítica e estratégia, preparação para cenários de invasão e acções a tomar contra a desinformação chinesa.

Tsao, de 75 anos, que fez fortuna como fundador da United Microelectronics Corp (UMC), o segundo maior fabricante de microchips (circuios integrados) de Taiwan, afirma que “o Partido Comunista Chinês não vai conseguir nada”, mas “que é muito perigoso”, descrevendo-o como um “sindicato do crime disfarçado de nação”.

“Esta postura reduziu a liberdade de expressão no país, levou à prisão de advogados de direitos humanos, de activistas, de membros da comunidade uigur e reprimiu a liberdade de Hong Kong. Agora pretendem fazer o mesmo a Taiwan e ameaçam-nos de todas as maneiras que podem”, afirmou.

“Pelo que sei, Xi Jinping pode iniciar esta invasão dentro de cinco anos, e é para isso que temos de estar preparados”, concluiu Tsao.

No ano passado, Taiwan registou um recorde de 969 incursões aéreas militares chinesas, indicou a agência de notícias France-Presse, mais do que o dobro das 380 incursões em 2020. Em Março, o porta-voz do Ministério da Defesa da China, Wu Qian, rejeitou as “tentativas do Partido Progressista Democrático” (PPD, no poder em Taipé) de estabelecer paralelos “entre a questão da Ucrânia e a questão de Taiwan”.

“Taiwan não é a Ucrânia. A questão de Taiwan é um assunto interno da China, que não tolera qualquer interferência estrangeira”, afirmou o porta-voz. Taiwan é, na prática, um território autónomo desde 1949, altura em que o antigo Governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, depois da derrota na guerra civil frente aos comunistas.

Sugerir correcção
Comentar