Marcelo termina visita oficial a Chipre com defesa da multiculturalidade e do anti-racismo

Num país onde a grande maioria da população é ortodoxa - os católicos representam pouco mais de 1% da população -, Marcelo Rebelo de Sousa foi rodeado, à saída da Igreja, por uma multidão de fiéis que lhe pediram para tirar selfies e lhe deram as boas-vindas.

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O Presidente da República terminou a visita oficial a Chipre numa missa LUSA/JOSÉ COELHO

O Presidente da República terminou este domingo a sua visita oficial a Chipre com uma missa em Nicósia, onde tirou selfies com várias comunidades imigrantes, destacando a “pátria cultural” onde se encontrava e a importância do anti-racismo no mundo actual.

No último ponto de agenda da sua visita oficial a Chipre, que começou no sábado, Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se até à Igreja de Santa Cruz, em Nicósia, para assistir a uma missa em inglês. Num país onde a grande maioria da população é ortodoxa - os católicos representam pouco mais de 1% da população -, Marcelo Rebelo de Sousa foi rodeado, à saída da Igreja, por uma multidão de fiéis que lhe pediram para tirar selfies e lhe deram as boas-vindas a Chipre.

Em declarações aos jornalistas à saída da missa, o Presidente da República disse que, dentro da igreja, pode verificar que a maioria dos crentes eram de “comunidades asiáticas, africanas, e muito pequena europeia”. “Chipre é isso. A riqueza de Chipre, ao mesmo tempo o seu papel na Europa e no mundo, e também o seu drama, vem disso mesmo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto, na multidão que o rodeava, alguém lhe gritava “amamos-te, Presidente de Portugal”.

Para o Presidente da República, todas as comunidades, em todo o mundo, têm hoje elementos de “multiculturalidade” e são “multicivilizacionais”. “Por isso é que se deve ser anti-xenófobo, anti-racista. Não é apenas por questões de princípio, é porque não há nenhuma comunidade que possa dizer “nós somos puros”. [...] O mundo é assim: quem não aceita o mundo assim, é melhor rever as suas posições, porque está enganado no mundo”, defendeu.

Fazendo um balanço da sua deslocação a Chipre - cujo programa se concentrou sobretudo no sábado -, Marcelo Rebelo de Sousa destacou o facto de ter sido o primeiro chefe de Estado português a fazer uma visita oficial ao país, que coincidiu com os últimos meses de mandato do seu homólogo cipriota, Nicos Anastasiades.

Marcelo sublinhou que, no jantar de sábado no Palácio Presidencial, teve a oportunidade de conhecer alguns potenciais sucessores de Anastasiades, e destacou ainda que se encontrou também com a presidente do parlamento cipriota, Annita Demetriou, que disse ter um “grande futuro”.

No que se refere aos temas abordados durante a visita, o Presidente da República destacou a guerra na Ucrânia, e sobretudo o seu impacto no Mediterrâneo Oriental, região em que se encontra Chipre. “As pessoas esquecem-se que Chipre está a 20 minutos do Líbano, está a 20, 30, 40 minutos de Israel e da Palestina, está mesmo, mesmo, metido no centro de três continentes”, sublinhou.

O Presidente da República defendeu assim que Chipre é “uma pátria multicultural”, com uma “capacidade de plataforma e de diálogo muito grande”. “Isso, para nós, é muito importante. Para eles, é muito importante a nossa capacidade de sermos plataforma”, indicou.

Abordando também a questão cipriota - a ilha está separada, desde 1974, por uma barreira que divide a República de Chipre da República Turca de Chipre do Norte, que é apenas reconhecida pela Turquia -, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que, a nível das Nações Unidas, “há esforços a continuar a fazer”. “Há esforços a fazer no domínio do Próximo Oriente, do Médio Oriente, da situação entre Turquia e Grécia e da situação que, envolve, no fundo, o equilíbrio geopolítico. Chipre é muito importante, não apenas pela sua dimensão, mas pela sua localização geográfica”, concluiu.

Marcelo Rebelo de Sousa foi o primeiro chefe de Estado português a fazer uma visita oficial a Chipre, que, inicialmente, tinha um programa bastante mais extenso do que o que foi depois cumprido. Com duração prevista de três dias - início na sexta-feira e fim no domingo -, Marcelo acabou por apenas cumprir o programa que estava previsto para sábado.

Este domingo estava prevista uma deslocação até Limassol, no sul do país, onde deveria visitar o centro histórico da cidade e as ruínas do teatro de Kourion, antes de participar na cerimónia de abertura da conferência “Maritime Cyprus 2022”.

Esta parte do programa foi, contudo, cancelada porque, segundo o Presidente da República, “havia o risco” de a conferência durar mais tempo do que previsto. “Havia o risco de deslizar, o que é natural, porque era um grande encontro, um grande congresso de armadores. Chipre é um centro fundamental em termos da importância do shipping, isto é da actividade marítima em termos de transportes e de comércio. E esse deslizar tinha problemas depois em termos de transporte para Lisboa, a tempo de poder cumprir compromissos”, referiu.

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