Horóscopos de mentes criminosas

A única coisa “centrada” em qualquer produto de entretenimento é sempre o espectador: os holofotes apontam sempre para as nossas opiniões e emoções.

Dahmer – Monstro: A História de Jeffrey Dahmer (Netflix) começa com duas piadas. A primeira é tipográfica e resulta da inspirada decisão de enfiar dois sinais de pontuação num título de cinco palavras. A segunda é visual e ocorre numa das primeiras cenas. Vemos uma das vítimas a entrar no covil do monstro, a franzir o nariz e a perguntar “que cheiro é este?”, antes do grande plano de um berbequim sujo de sangue. Tecnicamente apetrechada para gerar “tensão” (pouca luz, música ominosa), a sequência pertence a uma subcategoria de ironia dramática, na qual o espectador sabe algo que a personagem desconhece: nomeadamente, que alguém acabou de cometer um erro e cair no território das coisas horríveis que acontecem por azar, onde (paradoxalmente) as regras de causa e efeito que estruturam a vida deixam de fazer sentido fictício. A personagem entrou na zona da qual só um guião, e não o seu próprio diálogo, o pode salvar (mais vale tentar argumentar com um drone do Pentágono, ou com um piano a cair do sexto andar).

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