“Snifar porcelana”? Utilizadores do TikTok criam desafio como alerta sobre tendência virais

O objectivo era ver quanto tempo demorava até surgirem alertas de gerações mais velhas e notícias sobre os riscos de “snifar porcelana”. Em dias, o criador do falso desafio foi banido do TikTok.

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O desafio era convencer as pessoas que os jovens do TikTok andavam a tentar snifar porcelana Jasmin Schreiber/Unsplash

Vários utilizadores no TikTok juntaram-se na última semana para pregar uma partida aos internautas que conhecem a rede social devido a manchetes sobre vídeos virais e perigosos. A ideia veio de Sebastian Durfee, um artista norte-americano no TikTok que, no final da semana passada, desafiou os seus cerca de 150 mil seguidores a espalhar informação sobre um falso “desafio de porcelana”.

A missão era mostrar o quão fácil era gerar o “pânico moral” na Internet. No vídeo original, Durfee, conhecido por childprogeny na rede social, sugeriu que as pessoas começassem a falar de um desafio que consistia em partir e moer “porcelana num pó fino para a ‘snifar’ como cocaína”. Deveria ser descrito como a última tendência da Geração Z (jovens nascidos entre 1995 e 2012); a hashtag era #porcelainchallenge.

“O meu objectivo era mostrar a propaganda do medo que existe em torno de desafios de adolescentes”, explica Durfee, num e-mail enviado em resposta a questões do PÚBLICO. O artista nova-iorquino queria mostrar que nem sempre utilizadores conhecidos e jornalistas procuram a origem de supostos desafios online antes de os criticarem ou identificarem como a causa de mortes trágicas.

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Durfee criou vídeos de falsas notícias sobre o desafio para o tornar mais credível DR

Dias depois do “falso desafio” começar a circular no TikTok, a conta de Durfee foi banida por promover actividades perigosas. “[A origem] deste desafio podia ser facilmente encontrada”, acentua Durfee. “No entanto, o desafio foi capaz de se espalhar rapidamente, o que realça a facilidade com que rumores se podem perpetuar.”

Na sexta-feira, os vídeos a usar a hashtag tinham mais de 5,4 milhões de visualizações. Durfee admite, no entanto, que não leu nenhum relato falso sobre o desafio na comunicação social.

Medo injustificado

O norte-americano diz que nunca teve receio que as pessoas, de fora da piada, achassem que o desafio era verdade. “O medo generalizado em torno dos desafios dos adolescentes é, na sua esmagadora maioria, injustificado”, acentua. Durfee refere desafios como o “slap a teacher challenge” (esbofeteia o professor), que eram “completamente fictícios antes de receberem atenção generalizada da comunicação social.”

“Creio que se está a desvalorizar os jovens ao sugerir que só porque vêem um desafio são suficientemente totós para o fazer”, insiste. “E moer porcelana também não é o tipo de tarefa que uma pessoa possa fazer com facilidade, o que acrescenta uma camada extra de protecção.”

Apesar de este desafio ser falso, Durfee foi bloqueado permanentemente do TikTok. O PÚBLICO tentou contactar a equipa da rede social para mais detalhes, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo. Em declarações ao canal de televisão NBC News, um porta-voz do TikTok nota que qualquer conteúdo que promova comportamento perigoso viola as directrizes da plataforma — mesmo que seja falso.

Alarmismo online?

O desafio de Durfee chega depois de anos de cobertura noticiosa sobre desafios virais online. Muitos começaram como piadas que foram levadas a sério depois do aumento da atenção em todo o mundo. Em 2018, por exemplo, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), em Portugal, teve de alertar sobre os perigos de ingerir detergente depois do aumento de várias notícias sobre desafios de jovens a morder sabão em cápsula nos EUA.

Vários especialistas alertam, porém, para o problema de dar demasiada atenção a este tipo de tendências.“Independentemente de as mortes relacionadas [com desafios virais] poderem ser confirmadas, reportagens problemáticas dos meios de comunicação social sobre desafios perigosos, como o desafio da Baleia Azul, podem ter, involuntariamente, um efeito de contágio”, concluiu uma equipa de investigadores num relatório publicado em Maio de 2020 na revista académica da ACM (Associação de Máquinas Computadorizadas) sobre a interacção entre humanos e computadores.

O jogo Baleia Azul, que foi muito discutido em 2017, era composto por vários desafios perigosos destinados a jogadores, por norma, adolescentes com problemas de depressão ou isolamento. A atenção aumentou depois de vários relatos online atribuírem mortes de adolescentes ao jogo.

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