Há mais de 400 anos, a Inglaterra perdia o seu último castor. Agora, ele é uma espécie protegida

Desde 1 de Outubro é ilegal capturar, ferir ou matar castores-europeus na Inglaterra, onde a espécie recuperou de uma extinção local. Não que o presente cenário seja imensamente risonho: no país britânico, só num único rio é que existe uma população selvagem do roedor.

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Dois castores-europeus na água ARTERRA/UNIVERSAL IMAGES GROUP VIA GETTY IMAGES

O castor-europeu, ou castor-da-eurásia (Castor fiber), tornou-se oficialmente uma espécie protegida na Inglaterra. Desde o último sábado (1 de Outubro) que é ilegal capturar deliberadamente, ferir ou matar o animal, bem como danificar as tocas e barragens naturais que este é conhecido por construir.

Em tempos (há muitos séculos), o castor-europeu teve uma distribuição bastante alargada, mas o seu pêlo e castóreo — uma secreção oleosa glandular que nós, os humanos, usamos em alguns perfumes — tornaram-no um alvo muito procurado por caçadores, que contribuíram para diversas extinções locais. No princípio do século XX, a espécie era representada apenas por cerca de 1200 indivíduos.

Desde então, diferentes programas de reintrodução do roedor contribuíram para a sua recuperação — tanto que, a partir de 2008, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla inglesa) passou a classificar a espécie como “pouco preocupante”, entendendo que o seu risco de desaparecimento a uma escala planetária havia baixado significativamente.

A Euronews refere que exemplos de países onde o castor foi reintroduzido com sucesso incluem a Suécia, a Noruega e a Alemanha. Na Suécia, a reintrodução aconteceu há já cerca de 100 anos e a população conta presentemente com 150 mil indivíduos. Nos outros dois países, foi na década de 1960 que se deu a reintrodução, sendo que hoje haverá perto de 80 mil castores-europeus na Noruega e 40 mil na Alemanha.​

No Reino Unido, a extinção da espécie deu-se no século XVI, há mais de 400 anos, e as iniciativas de reintrodução só começaram recentemente. Segundo a BBC, os castores que em 2009 foram devolvidos à paisagem escocesa foram reintroduzidos no âmbito daquele que foi o “primeiro projecto autorizado de reintrodução de mamíferos no Reino Unido”. Estima-se que, presentemente, haja 600 a 1400 castores na Escócia, onde a espécie já é legalmente protegida desde Maio de 2019. Em Inglaterra, os únicos castores selvagens que existem moram no rio Otter (significa lontra), em Devon.

O castor-europeu é um animal cujas contribuições para o ambiente são muito importantes. As barragens naturais que constrói, sobretudo para se proteger de predadores como coiotes, lobos e ursos, não só são extremamente valiosas em alturas de seca, como criam zonas húmidas que podem ser habitadas por vários animais, incluindo diversas espécies de peixes, aves aquáticas, anfíbios e insectos.

As barragens, que os castores constroem utilizando galhos de árvores, vegetação, rochas e lama, também ajudam a minimizar o risco de cheias e, ainda, retêm sedimentos, melhorando a qualidade da água.

Em Setembro de 2021, a União Nacional dos Agricultores da Inglaterra e do País de Gales havia assinalado publicamente que não era a favor de estes dois países seguirem os passos da Escócia e fazerem do castor-europeu uma espécie protegida. O principal motivo: a água que as suas barragens armazenam pode inundar terrenos agrícolas e resultar em perdas relevantes para o sector.

“Muitos agricultores estarão — com razão — preocupados com os potenciais impactos dos castores nos seus terrenos” e precisarão de “apoio para gerir uma espécie que pode comprometer os seus negócios e a produção alimentar”, disse a organização após se ter sabido que, doravante, o roedor gozará de um estatuto de protecção na Inglaterra.

Um relatório recente, que analisou dados relativos à recuperação de 50 espécies com presença na Europa, refere que, actualmente, a população de castores-europeus ultrapassa os 1,2 milhões de indivíduos no continente. Ainda de acordo com os números apresentados pelo relatório, a distribuição geográfica da espécie aumentou 835% entre 1955 e 2020, o que estará associado ao sucesso dos vários programas de reintrodução.​

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