Compra de carros de luxo pela TAP: Marcelo fala em “problema de bom senso” e administração em “poupança”

Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil considera que está em causa um acto de gestão “vergonhoso”. Empresa diz que renovação da frota para viaturas híbridas plug-in permite poupar anualmente até 630 mil euros.

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Christine Ourmieres-Widener é presidente executiva da TAP Rui Gaudencio

O Presidente da República apontou esta quarta-feira à companhia aérea portuguesa TAP “um problema de bom senso”, na sequência de notícias sobre a compra de carros de luxos para administradores e directores, defendendo contenção em tempos difíceis. Por sua vez, a administração da companhia aérea garante que está em causa um processo de renovação da frota automóvel da empresa, o qual permite uma poupança anual superior a 600 mil euros.

“Já falei em relação a várias entidades públicas no passado e em relação à distribuição de dividendos e em relação aos salários e entendo que quando se está num período de dificuldade deve fazer-se um esforço para dar o exemplo de contenção”, defendeu esta quarta-feira Marcelo Rebelo de Sousa.

O chefe de Estado reagiu assim ao ser confrontado com notícias que dão conta de que a TAP encomendou dezenas de carros de luxo para administradores executivos e directores de topo, uma investigação da CNN Portugal, segundo a qual estas viaturas vão substituir a actual frota automóvel da companhia aérea.

No entender do Presidente da República, é compreensível que as empresas façam despesas, mas defendeu que é preciso “ter algum bom senso” quando o país e o mundo atravessam um “período difícil”. “É um problema de bom senso”, rematou, em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa.

A TAP reagiu através de um comunicado interno, frisando que a empresa “dispõe de uma frota automóvel corporativa para a administração e directores, em regime de ‘renting’ operacional. Com a opção que fizemos, estamos a poupar anualmente até 630 mil euros, se tivéssemos mantido os carros que temos hoje”.

Na mensagem interna, a TAP explica que a actual frota é maioritariamente de 2017 e atinge o máximo de prorrogações possíveis em contrato no próximo ano. “Não havendo outra opção senão celebrar novos contratos, optou-se por viaturas híbridas plug-in, em vez do actual diesel, por motivos ambientais, mas, também pelos benefícios fiscais associados a estas viaturas, menos poluentes”, escreve a comissão executiva da TAP, liderada por Christine Ourmières-Widener.

Segundo a empresa, “esta opção representa uma poupança superior a 20% do valor mensal da renda e tributação, relativamente a novos contratos de renting para viaturas com características semelhantes às actuais (gasóleo), estando em linha com o plano de reestruturação uma vez que representa o menor custo possível em sede de concurso no mercado”, apresentando “também melhores prazos previstos para entrega das viaturas”.

A TAP refere ainda que estão em causa 50 viaturas, para o qual foi feito um concurso ao mercado, tendo sido convidadas a participar seis entidades no mercado português. “A proposta escolhida foi a que apresentou o preço mais baixo, com uma renda mensal de 500 euros. Como referência, as outras propostas apresentadas à TAP com valor mais competitivo contemplavam rendas mensais de 750 euros”, pode ler-se.

Na mensagem interna, a companhia salienta que “a decisão da empresa teve assim um racional de poupança, cumprindo ao mesmo tempo os contratos estabelecidos com os gestores que incluem uma viatura de serviço”.

Sindicato diz que decisão é ética e moralmente condenável

Também o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) já reagiu, defendendo que a renovação da frota automóvel da TAP é ética e moralmente condenável, considerando que se não for sinal de disponibilidade para subir ordenados aos tripulantes é um acto de gestão “vergonhoso”.

Num comunicado aos associados a que a Lusa teve acesso, o SNPVAC assinala que “foi com enorme estupefacção e uma boa dose de vergonha alheia que os sindicatos, os trabalhadores do grupo TAP e os contribuintes portugueses foram confrontados com uma notícia que pode até ter uma rebuscada justificação económica, mas que é ética e moralmente condenável”.

Para o sindicato, é “inaceitável” que, “além da administração da TAP, a tutela esteja também constantemente a apelar ao esforço dos seus colaboradores para a sobrevivência da companhia e venham a público notícias de ‘pequenos luxos’, de forma cíclica”.

“Queremos assim acreditar que esta decisão, que envolve milhões, de renovação da frota automóvel por parte da administração, só pode trazer boas notícias”, refere o comunicado, sublinhando que tal “pressupõe a disponibilidade para aumentar os ordenados dos tripulantes, acompanhando a subida da inflação”. “Se assim não for, estamos perante um ato de gestão vergonhoso, que coloca a Administração numa situação insustentável”, vinca.

O sindicato diz ainda que “não pode deixar de confrontar a própria tutela, que deverá interrogar-se quanto à imagem passada aos contribuintes”, questionando “como se justifica que uma Empresa intervencionada se dê a estes luxos”. “Esperamos sinceramente que este não seja um mau presságio para a entrega de prémios num futuro próximo”, acrescenta.

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