Lula em vantagem nas eleições presidenciais, mas não evita segunda volta

O objectivo do candidato do PT era alcançar a vitória logo à primeira volta, mas prestação de Bolsonaro foi melhor que o esperado. Candidatos apoiados pelo actual Presidente conseguiram bons resultados.

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"Vamos ganhar estas eleições". Lula da Silva prepara segunda volta Joana Gonçalves

O ex-Presidente brasileiro Lula da Silva venceu a primeira volta das eleições presidenciais brasileiras, com 48% dos votos, enquanto o actual chefe de Estado, Jair Bolsonaro, obteve 43,4%, segundo dados publicados com 99% das urnas contadas, contrariando o quadro que a generalidade das sondagens apontava.

A afluência às urnas provocou atrasos na contabilização dos votos, que geralmente é um processo rápido no Brasil em virtude do sistema de voto electrónico. A fase inicial da contagem mostrou Bolsonaro na frente, mas, à medida que foram contados os votos em estados mais favoráveis a Lula, como no Nordeste, a tendência foi virando.

Até sábado à noite, as sondagens indicavam que a principal dúvida era se iria haver uma segunda volta, deixando Lula da Silva muito perto de alcançar mais 50% dos votos, enquanto Bolsonaro não chegava a 40%. O actual Presidente mostrou ter um apoio muito mais sólido do que aquilo que era antecipado e que se estendeu a muitos dos seus aliados.

A vitória à primeira volta era significativa no contexto actual. Bolsonaro passou meses a propagar dúvidas acerca da lisura do sistema de voto, fazendo uso de teorias da conspiração que diziam ser possível falsear os resultados, apesar de nunca, desde 1996 quando o sistema foi implantado no Brasil, ter havido qualquer relato de infracções eleitorais.

Ainda no dia da votação, Bolsonaro não garantiu que irá reconhecer uma eventual derrota. Questionado no Rio de Janeiro, logo a seguir a ter votado, Bolsonaro apenas falou em “eleições limpas” e voltou a duvidar das sondagens que ao longo dos últimos meses puseram Lula como forte favorito a um regresso à presidência.

A convicção generalizada é a de que um hipotético não-reconhecimento dos resultados por parte de Bolsonaro é mais difícil de surtir efeitos práticos perante uma vitória de Lula à primeira volta. O arrastar da campanha por mais quatro semanas é, igualmente, um cenário rejeitado pelos brasileiros. Uma sondagem recente do instituto Ipespe mostrava que mais de 60% do eleitorado queria que a eleição presidencial ficasse resolvida já à primeira volta.

Para os cálculos do PT eram importantes tanto a abstenção como a performance dos restantes candidatos, como Ciro Gomes ou Simone Tebet. Na recta final da campanha, Lula multiplicou os apelos ao voto útil para alcançar a vitória à primeira volta. Essa estratégia terá dado resultado, com os dois candidatos a não conseguirem superar o patamar dos 5%.

Os receios de violência política durante o dia da votação não se efectivaram. As autoridades eleitorais fizeram o balanço de um dia tranquilo, apesar das enormes filas em praticamente todas as grandes cidades e não foram detectadas irregularidades durante o processo eleitoral.

“Bolsonaristas” com sucesso

Para além de ter conseguido frustrar as previsões que davam como certa uma derrota pesada contra Lula, Bolsonaro tem razões para sorrir também com a forma como vários dos seus aliados saíram bem-sucedidos.

As ex-ministras Damares Alves e Tereza Cristina e o ex-ministro Marcos Pontes conseguiram ser eleitos para o Senado federal, tal como o vice-presidente Hamilton Mourão. No Espírito Santo, o pastor evangélico Magno Malta, outro aliado de Bolsonaro, também foi eleito senador. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi o mais votado como deputado federal pelo Rio de Janeiro. Em São Paulo, três dos quatro deputados mais votados são aliados do Presidente: Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro e Ricardo Salles.

Um dos resultados mais surpreendentes foi a vitória do também ex-ministro Tarcísio de Freitas na primeira volta das eleições para governador de São Paulo, que está bem posicionado para a disputa contra o candidato do PT, Fernando Haddad. Da mesma forma, Onyx Lorenzoni foi o candidato mais votado na corrida para governador do Rio Grande do Sul e vai disputar a segunda volta com o actual mandatário, Eduardo Leite.

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