Banco de Inglaterra compra dívida para evitar crise nos mercados

Taxas de juro da dívida pública britânica dispararam nos dias a seguir ao anúncio do plano de cortes de impostos do Governo liderado por Liz Truss, forçando agora o banco central a ter de intervir.

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O plano económico da primeira-ministra Liz Truss está a criar tensões nos mercados MAJA SMIEJKOWSKA/Reuters

Em resposta à queda da libra face ao dólar e principalmente à escalada das taxas de juro da dívida que se seguiu ao anúncio das medidas económicas do novo Governo, o Banco de Inglaterra viu-se nesta quarta-feira forçado a intervir nos mercados.

A autoridade monetária britânica anunciou que irá comprar, entre esta quarta-feira e o próximo dia 14 de Outubro, todos os títulos de dívida pública que for necessário para estabilizar os mercados financeiros.

“Se as disfunções neste mercado [da dívida pública inglesa] persistissem ou piorassem, haveria um risco material para a estabilidade financeira do Reino Unido”, diz o comunicado do Banco de Inglaterra, assinalando o risco de se verificar “um indesejado aperto das condições financeiras e uma redução dos fluxos de crédito à economia real”.

Nesta quarta-feira de manhã, a taxa de juro a 30 anos da dívida pública britânica subiu acima dos 5%, algo que já não acontecia desde 2002. Ao mesmo tempo, a libra tem estado, nos últimos dias, em forte queda face ao dólar, atingindo mesmo um novo mínimo histórico.

Estes dois fenómenos têm como causa principal o anúncio, na passada sexta-feira, do plano económico do Governo agora liderado por Liz Truss. A nova primeira-ministra decidiu apostar numa redução de impostos muito significativa, principalmente no que diz respeito aos rendimentos mais elevados, e na introdução de incentivos ao investimento empresarial.

Várias entidades, como o Fundo Monetário Internacional ou a agência internacional de rating Moody’s, criticaram abertamente o plano por desequilibrar as contas públicas, agravar a desigualdade de rendimentos e criar potencialmente ainda mais inflação.

Os mercados parecem estar preocupados com aquilo que este plano pode significar para a sustentabilidade das contas públicas, tendo agravado as taxas de juro que exigem para conceder crédito ao Tesouro britânico, através da compra de títulos de dívida.

O Banco de Inglaterra, que tal como a generalidade dos bancos centrais mundiais tem vindo nos últimos meses a subir taxas de juro e terminar as compras de dívida pública para controlar a inflação, vê-se agora, pelo menos de forma temporária, obrigado a dar um passo atrás, para evitar uma crise abrupta na capacidade de o Estado se financiar nos mercados internacionais.

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