Portugal: o país onde os jovens sonham, mas onde não os deixam viver

Aqueles que estão sedentos de um futuro mais próspero e digno, mais livre e com mais capacidade financeira para realizar sonhos, sentem que aqui tudo não passa de um projecto de arquitectura de vida desenhado em papel vegetal, que se guarda na cómoda, esperando por melhores dias que nunca virão.

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Ryan Tauss/Unsplash

Se ser idoso em Portugal já é demasiado angustiante, ser jovem começa a ser perigoso. Falo em perigo na medida em que as perspectivas, para além de não serem animadoras no que respeita à construção de um futuro digno, não se adivinham melhores com as políticas até agora desenvolvidas.

Uma sociedade deve ser governada com verdade. E se todos sabemos que vem por aí dias difíceis, é-nos dito que o caminho a seguir é exactamente este e o correcto. Este caminho está a levar ao desespero, à angústia e ao medo de não encontrar por cá a estabilidade necessária para construir uma vida digna. Tudo isto porque mentem. E fazem-no sem qualquer pudor, acreditando que os mais jovens não se importam com nada, não percebem nada e não sabem o que querem.

Aqueles que estão sedentos de um futuro mais próspero e digno, mais livre e com mais capacidade financeira para realizar sonhos, sentem que aqui tudo não passa de um projecto de arquitectura de vida desenhado em papel vegetal, que se guarda na cómoda, esperando por melhores dias que nunca virão.

É disto que vos quero falar. De sonhos, de vontade de fazer e criar, da vontade de dar ao país algo que seja valorizado. Para isso acontecer, é preciso coragem política para governar sem ideologias e demagogias, mas com a atitude necessária de não ter medo de perder votos e o poder.

Sempre defendi que os jovens, nos primeiros anos de emprego, fiquem isentos de contribuições e impostos, o que lhes daria de facto mais autonomia financeira. Porque tudo aquilo que retiram ao jovem em Portugal em impostos só serve para pagar devaneios políticos, para depois inventarem a velha táctica de um programa com o nome engraçado como é o caso do IRS jovem, que, contas feitas, dá um café por dia, quando na verdade o que se precisa é liquidez a sério.

Jovens que entram nas faculdades com mérito pelo esforço que fizeram ao longo dos tempos, para depois não conseguirem um quarto digno, ficando com o seu percurso académico comprometido, é indigno.

Para sair de casa dos pais, arrisca-se a que o salário mensal não seja suficiente para poder arrendar um T1.

Mas o Estado, o castrador da ambição e dos anseios, quer a sua parte em impostos em taxas e outras coisas que tais.

Chegaremos, muito brevemente, a um momento em que Portugal será só o destino de férias, até porque temos boas praias e o peixe é sempre fresquinho, e também para dar um abraço aos pais e aos avós, mesmo que todos os dias a tecnologia permita sentir que mesmo longe se pode estar um pouco mais perto. De resto, tal como aconteceu nos anos 60 quando grande parte dos jovens partiram de assalto para fugir à guerra colonial, hoje todos os dias temos notícias de um vizinho, amigo ou familiar próximo que está a dias de partir para um destino, onde as pessoas sentem que podem realizar parte dos seus sonhos, serem mais livres e, consequentemente, mais felizes.

Este país está sem rumo e sem objectivos claros, à beira de mais uma grave crise económica onde, tardiamente e mal, decide o seu futuro, teimando em não apostar naqueles que o podem salvar: os mais jovens. Se queres só sonhar, então fica por cá, mas se queres mais do que isso, sei que o que sentes: que este país ainda não te deixa materializar coisa nenhuma e não te diz nem dá provas de quando o podes fazer.

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