Há muitas razões para alguém conseguir ou falhar um salto de carreira: competências, esforço, conhecimentos, sorte. Um grupo de académicos a fazerem experiências para verificar uma teoria dos anos 70 não costuma fazer parte da lista. Mas este pode ter sido um factor determinante na vida profissional de milhões de pessoas nos últimos anos.

Entre 2015 e 2019, o LinkedIn (que tem cerca de 850 milhões de utilizadores) e investigadores de Harvard, do MIT e de Stanford fizeram uma experiência em grande escala, com a qual pretendiam investigar "a força dos laços fracos", uma influente teoria sociológica que defende que são as relações mais distantes que dão acesso a mais informação, oportunidades e recursos.

Para isso, criaram variantes do algoritmo usado pelo LinkedIn para sugerir novas ligações (uma funcionalidade que a rede social apresenta como "pessoas que você talvez conheça"). A alguns utilizadores eram dadas sugestões que os levavam a ligarem-se a pessoas socialmente mais distantes, ao passo que outros eram levados a terem mais ligações com pessoas mais próximas. A primeira vaga de testes envolveu quatro milhões de pessoas; a segunda, 16 milhões.

O artigo científico resultante foi publicado este mês na Science e está disponível aqui na íntegra. No geral, a experiência confirmou que os laços fracos (medidos em termos de ligações em comum e da intensidade de interacções entre utilizadores) levavam a uma maior mobilidade laboral. Há, no entanto, várias nuances. Uma delas é que os laços fracos permitiam uma maior mobilidade entre empregos em sectores mais digitais, ao passo que o inverso era verdade em sectores menos digitais. 

O New York Times noticiou a experiência (tal como fez o PÚBLICO), tendo o jornal americano sublinhado que os utilizadores não sabiam que estavam a participar num estudo científico, o que levanta questões éticas. Tanto os investigadores como a empresa argumentaram que agiram de acordo com as políticas de uso da plataforma. O LinkedIn acrescentou que este género de experiências lhe permite melhorar os algoritmos – graças aos resultados, poderá oferecer um melhor serviço a todos os utilizadores. É verdade e é aqui que se impõe um parêntesis.

Em muitas plataformas digitais é frequente existirem automatismos para mostrar informação ou opções distintas a diferentes grupos de utilizadores, de forma a analisar os números e encontrar a solução mais eficaz. Acontece nas redes sociais, nos sites de vendas online e em muitos outros. No PÚBLICO fazemos isso, com os artigos que são sugeridos após a leitura de uma notícia ou com as opções no menu de navegação no topo da página. Não o fazemos com as palavras dos títulos, nem com a ordem das notícias mostradas no site ou na aplicação, um trabalho que é inteiramente humano. Fechamos o parêntesis.

Por um lado, é possível ver a experiência do LinkedIn como uma quebra de confiança. Já nos habituámos a que partes das nossas vidas sejam regidas (ou, pelo menos, influenciadas) por algoritmos sobre os quais pouco sabemos. Porém, temos a expectativa razoável de que esses algoritmos estejam optimizados para o fim a que se destinam: quem usa o Tinder tem razões para crer que a plataforma faz o seu melhor esforço para dar opções de parceiros compatíveis; quem usa o LinkedIn acreditará que a plataforma funciona sempre para levar as melhores oportunidades profissionais aos utilizadores. 

Aquilo em que não pensamos é que as plataformas nem sempre disponibilizam a todos os utilizadores a melhor versão dos seus serviços. E que é possível, de forma aleatória, acabarmos numa versão menos eficaz. 

É justo? Talvez não. Mas podemos voltar à lista com que começámos este texto e dizer que, como tantas outras coisas, é uma questão de sorte.