Portugal recebe cinco milhões de euros para projecto-farol do Novo Bauhaus Europeu

Bauhaus do Mar esteve em lista de espera e viu agora financiamento aprovado. Lisboa será casa de experiências que poderão ser replicadas noutras cidades costeiras da Europa

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Projecto ficará instalado no futuro hub do mar, em Pedrouços, Lisboa LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O projecto português que quer juntar práticas e culturas de várias cidades europeias para imaginar outra relação com o oceano é a sexta proposta escolhida pela Comissão Europeia para servir de farol ao Novo Bauhaus Europeu.

Além de Lisboa e Oeiras, o Bauhaus do Mar, que, ao longo de três anos, terá um financiamento de cinco milhões de euros, prevê criar “demonstradores” noutros pontos costeiros europeus que entraram a bordo da ideia, como Veneza e Génova, Malmo, Hamburgo e o Delta do Reno.

Essas actividades, práticas ou tecnologias “demonstradoras”, que serão trabalhadas com as comunidades locais, podem depois ser adaptadas a outras cidades da rede, explica ao PÚBLICO o coordenador do projecto Nuno Jardim Nunes. Estes locais serão também casa de projectos artísticos baseados no tema.

O Bauhaus do Mar que, em Portugal, ficará sedeado no futuro hub do Mar, em Pedrouços, terá uma forte “componente cultural e estética”, refere o também professor catedrático de informática no Instituto Superior Técnico. Estes dois elementos são essenciais para que o trabalho se enquadre no desígnio do Novo Bauhaus Europeu, um repto lançado em 2020, pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O movimento que procura o “belo, sustentável e inclusivo” para levar a cabo a mudança prevista pelo Pacto Ecológico Europeu foi buscar inspiração à escola fundada pelo arquitecto Walter Gropius, no início do século XX.

O que se pode fazer com cinco milhões de euros? Certamente, não chega para transformar a Baixa de Lisboa, explica o responsável, que coordena o grupo que lançou o Bauhaus do Mar, também composto por Frederico Duarte, Heitor Alvelos, Miguel Figueira, Mariana Pestana e José Albergaria. Mas as instituições envolvidas poderão ter acesso a outro tipo de fundos para dar outra escala à ideia, caso o piloto tenha sucesso.

Em Portugal, os projectos-piloto prevêem exploração de prototipagem de novos materiais baseados nos oceanos ou desenvolvimento de um menu de alimentação ecológica com base em produtos do mar, exemplifica. O consórcio é liderado pelo IST e envolve também a Gulbenkian e os municípios de Lisboa e Oeiras.

Nuno Jardim Nunes estava na ilha das Flores, sob a tempestade Gaston, quando falou com o PÚBLICO, por telefone. Explica que um projecto destes, com casa em Lisboa, não faria sentido se não tivesse uma ligação aos Açores e à Madeira e dá o exemplo do fim da caça à baleia nas Flores, que levou a que a comunidade local tivesse que reimaginar hábitos e economia. “É simbólico de o que queremos que seja a Bauhaus do Mar”, diz, referindo que se pode “viver de forma sustentável” se aprendermos com os “saberes ancestrais” das comunidades que sempre viveram “em situações de fronteira com o oceano”.

Inicialmente, o Novo Bauhaus Europeu contemplava cinco projectos-farol. Os vencedores foram anunciados em Maio de 2022, deixando de fora a iniciativa com base em Lisboa, que ficou em lista de espera. No entanto, um dos cinco projectos então escolhidos pela Comissão Europeia, o EHHUR (Eyes, Hearts, Hands, Urban Revolution) será aplicado em Portugal (além de na Dinamarca, na Grécia, na Bélgica, na Turquia, na Croácia e em Itália), com o objectivo de combater a exclusão social, pobreza e degradação dos centros históricos.

Na semana passada, a Comissão Europeia informou a equipa do Bauhaus do Mar que o projecto também será financiado, juntando-se assim aos cinco que já eram conhecidos. Os acordos de para a atribuição de fundos deverão ser assinados até ao final do ano e os projectos começam a trabalhar no início de 2023.

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