O cancro da tiróide: mais casos, mas mortalidade é baixa

Melhores técnicas de diagnóstico têm aumentado o número de casos de cancro da tiróide mas felizmente a mortalidade continua baixa, até porque a cirurgia se tornou num dos procedimentos mais comuns nestes casos e as técnicas continuam a evoluir.

A nível mundial, nas últimas três décadas, observou-se um aumento significativo de casos de tumores malignos da tiróide, sendo estimado que se registam cerca de três vezes mais nas mulheres do que nos homens, embora estes números variem de país para país. No entanto, a mortalidade relacionada com esta doença continua baixa.

Este aumento do número de casos deve-se quase inteiramente ao número elevado de diagnósticos de tumores bem diferenciados, principalmente carcinomas papilares, como consequência do uso da ecografia cervical e da citologia aspirativa de agulha fina. Devido a este aumento significativo de diagnósticos precoces, a cirurgia da tiróide tornou-se num dos procedimentos mais comuns.

Embora a técnica convencional, inicialmente descrita por Theodore Kocher no século XIX, continue a ser a mais usada, uma vez que a experiência adquirida é grande e a técnica está perfeitamente estabelecida e definida, é um facto que os recentes avanços tecnológicos e a preocupação dos doentes com os aspectos estéticos levou ao aparecimento de novas vias de abordagem ao espaço tiróideu.

Estas novas abordagens têm como principal objectivo um melhor resultado estético, evitando ou minimizando a cicatriz cervical inerente à abordagem clássica.

De início, como na maioria das técnicas inovadoras, foram recebidas com uma atitude crítica e céptica por parte da comunidade científica, mas com a experiência cada vez maior e com os estudos que compararam os resultados com a técnica clássica, começaram a difundir-se e a afirmar-se.

Para se obterem estes resultados com toda a segurança, os critérios de seleção dos doentes devem ser muito criteriosos e acabam por ser técnicas limitadas a um nicho, devendo ser efectuadas em centros de referência.

De uma forma resumida podemos dizer que existem três técnicas de abordagem minimamente invasiva que se destacaram recentemente e prevejo terem um papel importante no futuro do tratamento do cancro da tiróide.

Por um lado, temos a chegada da “tiroidectomia minimamente invasiva vídeo assistida” (MIVAT) que apresenta as vantagens de uma cirurgia endoscópica, com melhor visão do campo cirúrgico, melhores resultados cosméticos e menos dor pós-operatória.

Por outro lado, o desejo de evitar por completo uma cicatriz cervical levou ao desenvolvimento de outras técnicas endoscópicas e técnicas assistidas por robot. O “acesso trans-axilar assistido por robot” (RATT) foi inicialmente desenvolvido nos finais de 2001, na Coreia do Sul, sendo popularizada por Chung e rapidamente aceite nos países asiáticos, por razões culturais que dizem que uma cicatriz horizontal no pescoço está directamente relacionada com a noção de morte. A introdução deste tipo de cirurgia ultrapassou algumas das dificuldades das técnicas endoscópicas, uma vez que oferece uma visão aumentada e em 3D, minimizando o tremor do cirurgião e permitindo uma posição mais cómoda e ergonómica.

Por último, uma breve alusão para a chamada “tiroidectomia endoscópica trans oral” (TOET). É de facto a única técnica que não apresenta qualquer cicatriz visível, uma vez que a abordagem é feita através da cavidade oral. Das técnicas menos invasivas é a de mais difícil execução, obrigando a uma curva de aprendizagem ainda mais prolongada e exigente do que as antecedentes.

Para finalizar, reforço algumas reflexões: A técnica clássica descrita por Kocher continua a ser a mais aplicada e tem excelentes resultados quando efectuada em centros de referência. Continua a ser a técnica com que todas as outras se têm de comparar ao nível de resultados, quer no que diz respeito a possíveis complicações, quer nos resultados oncológicos, quer ainda nos aspectos estéticos.

Hoje em dia, começam a chegar técnicas minimamente invasivas com resultados semelhantes à clássica que têm como principal objectivo e maior vantagem evitar ou minimizar a cicatriz cervical. Todas estas novas técnicas e diferentes vias de abordagem, apesar dos benefícios que trazem, implicam uma curva de aprendizagem longa para o cirurgião. Se aos dias de hoje, com as técnicas que já aplicamos, a cirurgia é curativa em grande parte dos carcinomas diferenciados da tiróide, então com a chegada destas novas abordagens temos um futuro ainda mais otimista no tratamento do cancro da tiróide.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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