Uva “de qualidade e com boa sanidade” nos Vinhos Verdes

Os Vinhos Verdes prevêem “uma colheita bastante boa” nas vindimas deste ano, cujo “grande pico” foi sábado. O crescimento na produção deverá ser mesmo de 10 por cento.

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Dora Simões tomou posse como presidente da Comissão Vitivinícola dos Vinhos Verdes em Julho. Rui Oliveira

A Região dos Vinhos Verdes está a ter uma vindima “em contraciclo com a maior parte das regiões” vitivinícolas portuguesas (só os Vinhos Verdes e o Tejo deverão crescer este ano) e vai mesmo “ter um acréscimo de produção”. “A previsão é de uma colheita bastante boa. Muita boa qualidade da uva, muito boa sanidade. Não houve lugar a grandes doenças, teremos um ano excepcionalmente bom e com um aumento significativo no volume”, partilhou, esta segunda-feira, a presidente da Comissão de Viticultura regional (CVRVV).

“A vindima teve de ser acelerada” e “este sábado foi o grande pico”, disse Dora Simões, que falava na Casa do Vinho Verde, no Porto, num evento que assinalou uma dupla efeméride: os 114 anos da demarcação da região e os 200 anos do nascimento do Conde Silva Monteiro, antigo proprietário do Palacete Silva Monteiro, onde funciona a sede da CVRVV desde 1944.

Ao Terroir, à margem da celebração, disse acreditar que a produção aumente 10 por cento em relação a 2021, tal como já havia sido comunicado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV). Para tal, contribuirá a boa performance das vinhas de Loureiro, casta que tradicionalmente faz oscilar, para cima ou para baixo, a produção anual na região.

“No ano passado, houve quebras de produção no vale do Lima e noutras zonas onde o Loureiro é forte. Este ano, como a produção [da casta] está boa, isso fará a diferença”, concretizou Dora Simões.

À plateia que a ouvia na Casa do Vinho Verde — produtores, parceiros e representantes de outras comissões vitivinícolas e do IVV —, disse que o desafio era “agora conseguir vender o vinho, apesar das dificuldades que se sentem a nível mundial”. A recém-empossada presidente da CVRVV já havia enumerado essas dificuldades, que de resto ouvimos vários agentes económicos do sector repetirem durante o Verão: “mão-de-obra quase inexistente”, “dificuldades no acesso ao vidro e ao papel”, “dificuldade enorme para conseguir colocar os produtos nos mercados” onde os produtores já estavam presentes.

Dora Simões conta com “a resiliência e a criatividade minhota” que sempre caracterizaram a região para fazer face a esses constrangimentos. “Estamos a passar um momento particularmente difícil. É preciso encontrar novas formas de colocar produtos no mercado”, vaticinou. Mercados como o dos EUA, que sempre comprou muito Vinho Verde, já não estão a crescer. E, no futuro, na visão da presidente da CVRVV, a região “necessita de se reinventar e de encontrar novos mercados”.

“Categorias mais elevadas”, “brancos de guarda, que possam ser vendidos por valor mais elevado”, “inovação na área dos tintos”, “novos tipos de castas, muitas delas com grande tradição já na região” e o estudo desse património genético de forma a criar “vinhos com diferentes perfis”. Foram estes alguns dos caminhos apontados para uma região que, apesar de vender “para mais de 100 mercados”, está obrigada a “diversificar a oferta” se quiser continuar a crescer.

Durante a sessão, a CVRVV anunciou protocolos com a Câmara Municipal do Porto, para a edição comemorativa de um livro sobre os 200 anos do nascimento de Silva Monteiro, “projecto que será liderado por Joel Cleto” — o historiador esteve presente no evento e fez uma apresentação sobre a vida e obra do empresário, filantropo e político portuense da segunda metade do século XIX —, com o Curso de Música Silva Monteiro e com a Universidade Católica do Porto, que continuará a fazer o restauro do palacete que serve de sede à Comissão.

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