Exposição da fotógrafa canadiana Margaret Watkins chega a Cascais

Pela primeira vez em Portugal, a mostra sobre a obra de Margaret Watkins será apresentada no Centro Cultural de Cascais até 8 de Janeiro de 2023.

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Fotografia de 1924, que serviria para um anúncio ao sabão Woodbury Margaret Watkins/cortesia

A exposição Margaret Watkins — Black Light vai reunir em Cascais, a partir de domingo, uma selecção de 136 fotografias e fotomontagens realizadas entre 1914 e 1939, que revelam os temas de eleição da fotógrafa canadiana.

Pela primeira vez em Portugal, a mostra sobre a obra de Margaret Watkins (1884-1969) será apresentada no Centro Cultural de Cascais até 8 de Janeiro de 2023, por iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais, no âmbito da programação do Bairro dos Museus.

Documentos e objectos originais, uma câmara de época e um filme documentário sobre a fotógrafa natural de Hamilton, no Canadá, completam esta exposição de uma autora que se tornou uma figura destacada na história da fotografia do século XX.

Em 1969, perto do fim da vida, Watkins — que não falava sobre o seu passado como fotógrafa — entregou uma caixa lacrada contendo todas as suas fotografias e negativos a um vizinho, Joseph Mulholland, com instruções para que a caixa só fosse aberta após a sua morte, recorda a organização da mostra, em comunicado, sobre a artista.

A trajectória de vida levou-a a viver nos Estados Unidos e no Reino Unido a partir de 1908, onde fez retrato e paisagem, naturezas-mortas, cenas de rua, e também trabalhos de publicidade e design.

Nascida numa família privilegiada, Watkins “viveu uma vida de não-conformismo, rejeitando a tradição e os papéis de género atribuídos às mulheres na época”.

Na juventude, desenvolveu a sua sensibilidade para as artes, dedicando-se principalmente à música, ao desenho e à poesia, disciplinas que moldariam o estilo e a linguagem da sua produção artística.

Apesar de ter começado a fotografar ainda antes da década de 1920, é neste período que se dá o auge da sua carreira: a viver em Nova Iorque, ganhou prémios em exposições internacionais, abriu o seu próprio estúdio dedicado a publicidade, e ensinou fotografia na Clarence H. White School of Photography, onde teve entre os seus alunos Margaret Burke-White e Paul Outerbridge, outros nomes que se destacariam na fotografia.

As primeiras secções da exposição, Genesis of a work 1908-1915, Portraits e New York, 1915-1928, incluem fotografias representativas dessa fase. Na mesma altura, Watkins voltou a sua atenção para os objectos mundanos ao seu redor e produziu algumas das suas imagens mais emblemáticas.

A cozinha e casa de banho da sua casa aparecem em várias fotografias actualmente consideradas seminais por estudiosos e críticos de arte, como por exemplo The Kitchen Sink (1919), Still life — Bathtub (1919), ou Domestic Symphony (1919), esta última particularmente emblemática do seu interesse pela música.

Quando morreu, em Novembro de 1969, deixou a maior parte da sua herança a instituições de caridade voltadas para a educação musical.

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Margaret Watkins retratada por Frances Bode, na Clarence H. White School of Photography, em 1921 Margaret Watkins

Anne Morin, curadora da mostra, citada no comunicado, sublinha que o estilo modernista de Watkins “sugere a sua capacidade de antecipar as grandes revoluções estéticas e conceptuais que viriam depois”.

Na sua fotografia “é estabelecido um diálogo incessante entre arte e vida doméstica, fundindo tema e objecto na mesma coisa, conceito que utilizaria ao longo da carreira, tanto no trabalho pessoal, quanto nos trabalhos publicitários para agências como a Reimers, o grupo editorial Condé Nast e revistas como Ladies’ Home Journal and Country, entre outras”, aponta a curadora.

Em 1928, Watkins viajou para a Europa, passando por várias cidades no Reino Unido, França, Alemanha e Rússia, antes de estabelecer residência em Glasgow, na Escócia, onde teve de cuidar da antiga casa da sua família e das tias idosas.

Assoberbada pelas obrigações familiares, Watkins abandonaria a fotografia enquanto carreira, mas continuou a captar imagens como Black Light, que ilustram essa fase da vida e produção artística, especialmente as fotomontagens que criou a partir de pormenores das suas próprias fotografias para construir motivos e padrões decorativos que oferecia a fabricantes de têxteis e tapetes.

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