O próximo instrumento do CERN para procurar matéria escura tem mão portuguesa

A Darkside-20k será a próxima estrutura do CERN para detectar a matéria escura. Uma empresa bracarense faz parte dos planos, tendo sido contratada para desenhar uma parte deste instrumento.

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O prometido detector de matéria escura com mão portuguesa entrará em funcionamento no próximo ano REUTERS

Ainda não há muita informação sobre a próxima grande estrutura do Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), mas o que podemos avançar da Darkside-20k é que terá mão portuguesa. É de Braga que sairá uma estrutura metálica desenhada para conter um cubo com 12 metros de altura e com a capacidade de armazenar 730 toneladas de árgon líquido. Tudo isto para “apanhar” a matéria escura, a grande ambição do CERN.

Entre o “final do ano passado e o início deste ano”, a empresa bracarense Bysteel, que pertence ao grupo DST, foi desafiada pela Agência Nacional de Inovação para um projecto de pré-qualificação tendo em vista este contrato, conta Rodrigo Araújo, administrador da Bysteel. “Foi um processo de cerca de seis meses. O projecto de pré-qualificação foi exigente, mas passado muito pouco tempo fomos contactados por eles [CERN] para estudar esta superestrutura que é o Darkside-20k”, diz ao PÚBLICO.

Há ainda muito por desvendar sobre este projecto – à imagem da matéria escura. Além da confidencialidade de grande parte dos detalhes deste detector que vai ser instalado no Laboratório Nacional de Gran Sasso, na Itália, também os valores do contrato assinado com a empresa bracarense não são divulgados.

O plano é que este Darkside-20k entre em funcionamento em 2023, tornando-se o detector de matéria escura mais sensível que já conseguimos desenvolver. Soterrado a 1400 metros da superfície, este novo instrumento do CERN vai comportar 730 toneladas de árgon líquido que será fundamental, esperam os cientistas, para testar a hipótese de as partículas de matéria negra interagirem com os núcleos dos átomos de árgon - um elemento químico com um grande núcleo, o que poderá permitir mais facilmente o choque da matéria negra com os átomos, à imagem do que já é testado com o xénon.

A procura de uma forma de detectar a matéria escura já dura desde os anos 1970. Não conhecemos totalmente o que é matéria escura. A matéria convencional e visível, que compõe aquilo que conhecemos, representa apenas 5% do Universo – a restante composição do Universo divide-se entre energia escura e matéria escura (esta com mais de 26%).

A matéria escura não absorve, não reflecte nem emite luz, o que torna mais desafiante testemunhar a sua existência. Contudo, apesar de nunca ter sido detectada, sabemos que a matéria escura existe pela sua influência no movimento das estrelas nas galáxias – uma descoberta da astrofísica norte-americana Vera Rubin (1928-2016). Quanto à energia escura, de que também não se conhece a sua natureza, vemos os seus efeitos num Universo em expansão cada vez mais acelerada, contrariando os efeitos da gravidade.

A Bysteel tem agora um prazo de quatro meses para a construção desta estrutura que irá acomodar o reservatório do árgon líquido. Tudo será testado e montado antes para garantir o funcionamento conforme contratualizado.

E, apesar de ser o primeiro trabalho da empresa bracarense com o CERN, poderá não ser o último. “Já fomos desafiados para estudarmos um segundo contrato, que é o que estamos a fazer. Para uma outra estrutura que terá quatro vezes a dimensão desta que estamos agora a construir”, adianta Rodrigo Araújo.

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