Em dia de “culto”, Ventura desafia críticos a irem à Batalha e traça objectivo de chegar ao Governo em 2026

Chega discute a liderança numa reunião de dois dias na Batalha aberta a todos os militantes. No domingo votam a moção de confiança no presidente.

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LUSA/CARLOS VIDIGAL

Simbolicamente realizado na Batalha, no distrito de Leiria, o primeiro dos dois dias da Assembleia Plenária do Chega serviu para o elogio colegial a André Ventura e para o líder vincar o objectivo de o partido estar no Governo em 2026.

No discurso de abertura do conselho nacional, Ventura bem apelou aos críticos para irem ao evento que reuniu centenas de pessoas mas nada disso aconteceu durante a tarde. Neste domingo, depois de mais um rol de intervenções que se adivinham elogiosas, os militantes vão votar uma moção de confiança na direcção do partido depois de problemas internos levantados por discordâncias do deputado e vice-presidente Gabriel Mithá Ribeiro, autor da reformulação do programa e coordenador do gabinete de estudos do partido - e que o levou a pedir demissão do seu cargo na direcção.

“Todos foram convidados e espero que venham aqui à Batalha”, disse André Ventura, no discurso de apresentação da moção de confiança, perante algumas centenas de militantes do Chega. A direcção nacional do partido apresentou à mesa do Conselho Nacional extraordinário uma proposta, aprovada por unanimidade no início dos trabalhos e que Ventura classificou de “inédita” nos partidos com assento parlamentar, para que todos os militantes (e não apenas os conselheiros nacionais) que se desloquem à Batalha possam votar a moção de confiança.

“Desta vez não dissemos que venham os conselheiros, venham os congressistas eleitos por métodos distritais. Dissemos: venham todos. Os que dizem bem e os que dizem mal. Os que passam a vida a criticar, e os que passam a vida a dizer bem. Venham todos à Batalha”, desafiou. “Apareçam, digam o que pensam e votem. Todos os que acharem que estamos no bom ou no mau caminho e mesmo os que acharem que há erros que devam ser corrigidos”, acrescentou André Ventura.

Ainda assim, o líder do partido de extrema-direita lamentou que, “de alguma forma” o Chega não deveria este fim-de-semana estar a votar uma moção de confiança à sua liderança. “O nosso partido devia estar focado e concentrado na construção da oposição que temos de fazer. Não interna, mas ao Partido Socialista e aos partidos do sistema”, vincou, repetindo o lamento que já deixara no encerramento das jornadas parlamentares, no início da semana, em Setúbal.

Na sua intervenção, interrompida amiúde por aplausos sonoros e gritos de apoio, André Ventura apontou o alvo às eleições legislativas de 2026 e à ambição do Chega em ser Governo. “Prometo-vos com o meu sangue e o meu corpo, que se nos derem uma maioria qualificada amanhã [domingo], nós vamos cumprir o destino que temos de cumprir e levar o Chega ao Governo de Portugal em 2026. E eu preciso do vosso apoio, quero o vosso apoio e juntos vamos voltar a dar Portugal ao mundo inteiro”, declarou André Ventura.

Enfatizando que o que está em causa na moção de confiança é a continuidade da actual liderança, André Ventura fez a “promessa solene” de que se o partido “entender que houve um caminho que chegou ao fim”, não será crítico de uma eventual futura liderança. “A quem vier depois de mim, como ex-presidente, nunca terão uma crítica, uma armadilha, ou uma ameaça. Terão apoio total e lealdade total”, afirmou.

Esta moção de confiança foi anunciada pelo presidente do partido em finais de Agosto por considerar então ser evidente que havia no Chega “uma facção”, que dizia ser minoritária, que contestava a actual direcção. Ventura disse então que não era “imune” aos “casos” das últimas semanas e que “talvez essa facção, como o episódio que ocorreu protagonizado pelo professor Gabriel Mithá Ribeiro”, fosse “efectivamente uma questão”.

Nessa altura, depois de uma discussão com outro deputado (Bruno Nunes) que quase terá chegado à violência física, o deputado do Chega eleito por Leiria, Gabriel Mithá Ribeiro, demitiu-se do cargo de vice-presidente do partido, foi retirado de coordenador do gabinete de estudos por Ventura e admitiu deixar o Chega mantendo-se como deputado não-inscrito no Parlamento.

Poucos dias depois, André Ventura e Gabriel Mithá Ribeiro acabaram por, aparentemente, sanar o conflito, surgiram juntos num vídeo, gravado no Parlamento, para mostrar que as divergências tinham sido ultrapassadas e que o grupo parlamentar estava unido. Mas a assembleia para discutir o rumo que a direcção está a dar ao partido continuou marcada.

Neste sábado, Mithá Ribeiro foi uma das vozes mais elogiosas que subiu ao palco ao classificar o presidente como “pai fundador” - e “um pai fundador não é substituível”, vincou. Depois de discursos onde se apelou à união e se crucificaram os “traidores” – Tânger Correa avisou que “ninguém lhes vai dar a mão” -, o líder parlamentar Pedro Pinto criticou os “cobardes” e “ressabiados” que não tiveram coragem de aparecer no conselho nacional, os “arruaceiros” que prometiam levar militantes para protestar e os que “se auto-excluíram” do gabinete de estudos e agora minam o partido – numa alusão a Pedro Borges de Lemos.

Antes, no palco, o deputado Bruno Nunes garantiu que nunca agrediu Mithá Ribeiro, e o também parlamentar Pedro Frazão prometeu colocar todos os seus mandatos à disposição se a moção de confiança chumbar.

André Ventura tem recorrido ao mesmo expediente sempre que se tem sentido ameaçado ou quando não cumpre metas que se auto-impôs (como nas presidenciais): pede reforço da confiança em si, seja demitindo-se da presidência e convocando eleições - que depois implicam a realização de congressos onde tem alterado os estatutos do partido para reforçar os seus poderes, seja pedindo a votação de uma moção de confiança.

Notícia actualizada às 21h30 com os discursos dos deputados.

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