Já não conseguimos ver da Terra, mas este cometa é a fotografia do ano em Astronomia

O cometa Leonardo não pode sequer ser observado no nosso planeta, mas a fotografia de Gerald Rhemman no Natal de 2021 fica na galeria das melhores imagens dos céus.

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O cometa Leonard, protagonista da fotografia vencedora no concurso de astronomia do Observatório Real de Greenwich Gerald Rhemann

É um retrato do ano astronómico a partir das lentes da Terra. Os vários tons de azul num pano de fundo clássico mostram um pedaço do cometa Leonardo a ser arrancado pelo vento solar – e o resultado é “espantoso”. A classificação é do próprio Observatório Real de Greenwich, em Londres (Reino Unido), que anunciou, esta quinta-feira, os vencedores do concurso Fotografia do Ano em Astronomia, referente a imagens captadas em 2021.

O perfil tirado ao cometa Leonard é de Gerald Rhemman e devolve-nos ao Natal passado. Este cometa teve uma breve aparição no nosso espaço visível a partir da superfície terrestre: foi descoberto a 3 de Janeiro de 2021 e desapareceu no final do ano do nosso sistema solar. Mas antes, a 25 de Dezembro, Gerald Rhemman – que fotografa o céu desde 1989 -, apontou a partir da Namíbia e encontrou este momento de separação entre uma parte da cauda e o restante cometa.

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Nesta imagem, uma parte da cauda do cometa Leonard é arrancada por ventos solares Gerald Rhemann

As categorias não se ficam por aqui – e há planetas, galáxias e nébulas para ver. Uma delas premiou dois rapazes de 14 anos de Sichuan (China), Yang Hanwen e Zhou Zezhen, que trouxeram uma imagem da galáxia Andrómeda (a maior do grupo de galáxias a que pertencemos, o Grupo Local). Através da representação de várias imagens, com métodos de processamento e composição de dados (como os que vimos nas primeiras imagens do telescópio James Webb), os dois adolescentes atingiram o que um dos júris apelidou de “captura soberba”.

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A imagem processada pelos dois jovens de 14 anos, num retrato da galáxia Andrómeda Yang Hanwen e Zhou Zezhen

E se olhássemos para o nosso Sol durante um ano inteiro? Uma ideia simples que Soumyadeep Mukherjee colocou em prática. Entre 25 de Dezembro de 2020 e 31 de Dezembro de 2021 (com apenas seis dias perdidos neste período) fotografou o nosso sol. Depois juntou todas as imagens para criar uma única imagem do Sol ao longo de todo o ano. “Mais do que uma questão de trabalho árduo, este fotógrafo alcançou um olhar único e fascinante”, escreve o júri Steve Marsh no comentário à imagem, realçando as faixas de manchas solares presentes na superfície.

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A compilação de um ano de fotografias ao nosso Sol resultam nesta imagem única Soumyadeep Mukherjee

Queremos regressar à Lua nos próximos anos e não a podemos deixar de fora de uma competição de fotografia. Martin Lewis conseguiu conjugar a boa visibilidade para a Lua e a incidência de luz solar na cratera lunar Platão. A imagem capta todas as imperfeições da cratera e de uma superfície com lava espalhada por todos os cantos. “Não importa o quão frequentemente olhamos para a Lua, há sempre uma vista ainda mais maravilhosa para nós vermos”, rematou Melissa Brody na análise esta fotografia.

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A pormenorizada cratera lunar de Platão venceu a categoria referente à Lua Martin Lewis

E numa galáxia também muito próxima da nossa, a Sombrero, encontramos o que poderia ser uma brilhante nave a viajar na nossa direcção. Não o é. O que Utkarsh Mishra nos mostra é a galáxia Sombrero em posição central, rodeada por várias estrelas a morrer, em resultado da colisão de uma pequena galáxia.

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A galáxia Sombrero ao centro, rodeada por estrelas a morrer Utkarsh Mishra, Michael Petrasko e Muir Evenden

Para os fãs de auroras, Filip Hrebenda captou o momento praticamente perfeito em Hvalnes (Islândia). Normalmente, as fotografias de auroras boreais são tiradas no Inverno, mas não neste caso. No final da Primavera do ano passado, o reflexo de um lago congelado e iluminado nos tons verde contrasta com a escuridão da montanha Eystrahorn: “No abraço de uma senhora verde”, intitulou Hrebenda esta fotografia.

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Os tons esverdeados da aurora boreal reflectem-se no lago gelado e na montanha Eystrahorn (Islândia) Filip Hrebenda

Na categoria de nébulas e estrelas, uma imagem pela qual já poderá ter passado. A nebulosa Hélix, a apenas 650 anos-luz da Terra, é uma das mais próximas do nosso planeta. Esta fotografia mais luminosa e com as cores mais fortes do que, por exemplo, víamos nas capturas do telescópio Hubble tornou-a numa das vencedoras desta edição de fotografia astronómica. A imagem desta nebulosa conhecida como “O Olho de Deus” foi captada por Weitang Liang.

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A vivacidade das cores da nebulosa Hélix torna-a uma versão detalhada deste objecto astronómico com mais de 10 mil anos Weitang Liang

Uma última categoria envolve pessoas e espaço, numa imagem tirada directamente da Estação Espacial Internacional enquanto sobrevoavam o Mar da Tranquilidade, região do satélite natural da Terra onde a Apolo 11 alunou em 1969 – na primeira vez que um humano pisou a Lua. Esta imagem é quase um regresso ao passado: “Pessoalmente, acho que evoca directamente o programa Apolo: imagens clássicas das sondas lunares a descer dos módulos para pousar no nosso vizinho cósmico mais próximo”, explica o astrónomo Ed Bloomer no comentário a esta imagem.

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Sob o Mar da Tranquilidade, na Lua, onde em 1969 a Apolo 11 alunou e colocou os primeiros humanos no solo do satélite natural da Terra Andrew McCarthy

Além dos vencedores, podem consultar todas as fotografias que foram também nomeadas neste concurso anual do Observatório Real de Greenwich no site da instituição. Todas estarão em exposição a partir deste sábado no Museu Marítimo Nacional, em Londres. Esta colecção estará em apresentação até 23 de Agosto de 2023.

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