Danijoy morreu há um ano na prisão com 23 anos. “Porque é que o medicavam?”

Declarações da mãe de Danijoy ao Ministério Público determinaram a reabertura do inquérito-crime à morte do jovem em Novembro passado. A mãe ainda espera ser ouvida pela Polícia Judiciária.

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Danijoy Pontes e Daniel Rodrigues morreram em Setembro do ano passado, na cadeia de Lisboa, com minutos de diferença Rui Gaudêncio

Na manhã cinzenta desta quinta-feira, em frente à porta do Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL), Alice Quaresma dos Santos e Luísa Correia dos Santos, permaneciam junto às coroas de flores brancas e vermelhas colocadas neste dia para assinalar um ano da morte de Danijoy Pontes e Daniel Rodrigues, que faleceram na manhã de 15 de Setembro naquela cadeia.

O inquérito-crime do caso de Danijoy foi reaberto em Novembro último depois de a mãe do jovem ter sido ouvida pela procuradora titular da investigação Alexandra Catatau, e terem sido apurados novos factos que justificaram a reabertura. Já o inquérito do Ministério Público à morte de Daniel Rodrigues foi arquivado.

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Faz um ano que Daniel Rodrigues e Danijoy Pontes morreram dentro do Estabelecimento Prisional de Lisboa. Para marcar da data a mãe de Danijoy Pontes depositou duas coroas de flores à porta da cadeia de Lisboa Rui Gaudêncio

A Alice Santos, mãe de Danijoy, sublinha ainda estar à espera de ser ouvida pela Polícia Judiciária (PJ). Mas segundo o seu advogado, Adriano Malalane, “não é estranho” ainda não ter sido ouvida pela Judiciária, por se tratar de um “elemento externo” ao caso.

Na manhã desta quinta-feira, um grupo com cerca de 20 pessoas prestou solidariedade em silêncio às duas famílias. A polícia dispersou-os, mas Alice e Luísa, com os rostos dos filhos estampados nas t-shirts, recusaram-se a abandonar o local. As duas mães não se conformam com o falecimento dos filhos e continuam a reivindicar que a justiça seja feita. Para Alice, falta a resposta a várias questões. “Porque é que arquivaram o caso tão cedo? Porque é que não me deixaram logo ver o meu filho? Porque é que o medicavam? Porque é que esteve na solitária durante 12 dias?”, questiona Alice Santos com um tremor na voz. “Porque é que até hoje ainda não obtivemos resposta sobre o pedido de exumação solicitada pelo advogado em Fevereiro?”

O advogado explica que o pedido terá que ser fundamentado nas provas apresentadas pelo relatório da PJ, tendo o Ministério Público de verificar se é oportuno ou não realizar a exumação do corpo.

Alice Santos diz que não sabia que o filho sofria de esquizofrenia, tal como indica a autópsia, ao contrário do que tinha sido aferido por um relatório de um exame, feito em Julho de 2021 a pedido pelo tribunal, no qual peritos consideram que Danijoy terá simulado as alucinações no contexto de um roubo por esticão de oito telemóveis no metro.

Recorde-se que Daniel Rodrigues, de 37 anos, e Danijoy Pontes, de 23 anos, faleceram no mesmo dia com 44 minutos de diferença, na mesma ala D da cadeia de Lisboa. A PJ não foi na altura chamada pelos serviços prisionais a investigar as duas mortes, como determina a lei. Os dois relatórios das autópsias indicam que em ambos os casos se tratou de uma morte natural, como noticiou o PÚBLICO na altura. Mas a mãe de Danijoy acredita que não foi esse o caso.

Passado um ano, as dúvidas sobre as circunstâncias da morte permanecem. Por essa razão, no dia 17 de Setembro, às 16h30, no Rossio, irá ocorrer uma manifestação para exigir justiça por Daniel, Danijoy e Miguel Cesteiro, encontrado morto no Estabelecimento Prisional de Alcoentre, a 10 de Janeiro deste ano.

Texto editado por Pedro Sales Dias

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