Moedas, o outro líder da oposição ao Governo

Na entrevista à RTP, o presidente da Câmara de Lisboa assegurou que não está aqui “de passagem”.

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Carlos Moedas diz que veio para ficar Daniel Rocha

Carlos Moedas nunca se escusou, enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), de comentar questões da política nacional. Nunca se ficou pela sua “capela” municipal. Voltou a não se ficar na noite de quarta-feira na entrevista à RTP. Mas desta vez terá ido mais longe do que nunca, deixando uma ideia clara que as suas ambições vão além da autarquia alfacinha. Muitas vezes falou como se fosse o líder do principal partido da oposição, dando razão aos que, dentro e fora do PSD, dizem que o seu grande objectivo é a liderança do seu partido.

O antigo comissário europeu não tem hoje um palco pequeno. Da CML já saiu um Presidente da República (Jorge Sampaio) e dois primeiros-ministros sem levarem o mandato autárquico até ao fim (Santana Lopes e António Costa). E Moedas sabe-o.

Apresentou-se como um líder que sabe trabalhar sem maioria, referindo-se à oposição como um Diabo que bloqueia o seu trabalho, o que não o faz desistir de “ir em frente”, mas que com quem - diz - também sabe dialogar.

No que respeita aos apoios aos cidadãos neste momento de grave crise financeira, considerou que os dados pelo Governo eram insuficientes e lançou-se mais para cima. Se Costa vai dar 125 euros a todos cidadãos que ganhem menos e 2700 euros brutos, ele vai dar até 1500 euros aos lisboetas mais necessitados, colocando-se ao lado dos que criticam o primeiro-ministro por não dar mais aos que mais precisam. E aqui até foi politicamente ágil transformando o já existente Fundo de Emergência Social numa quase absoluta novidade. E falou também para a função pública (a larga massa que decide eleições) considerando insuficiente o eventual aumento de 2% anunciado pelo chefe do Governo.

Sobre a discussão da localização do novo aeroporto de Lisboa, os recados não foram só para Costa, mas também para o líder do seu partido. Se Costa prescindiu do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, na mesa das negociações com Montenegro, não pensem que o deixam a ele sem cadeira. “Não prescindo de um lugar à mesa”, afirmou. E se Costa e Montenegro não o convidarem, garantiu mesmo que aparece de surpresa para garantir que o aeroporto fique a “uma distância razoável” de Lisboa.

Quando foi mais duro com a oposição na CML, especialmente para os que achavam que a sua passagem pela autarquia seria fugaz, mais uma vez pareceu estar a falar para o país. “O Carlos Moedas não está aqui de passagem. O Carlos Moedas está aqui para cumprir um grande mandato como presidente da Câmara, ter realmente a capacidade de fazer e... não se atravessem à minha frente, porque eu vou para a frente”.

Uma frase que levou o jornalista a questioná-lo se se vai recandidatar à presidência da CML em 2025 ou se tem outras aspirações políticas. Ficou sem resposta. “Não faz sentido hoje fazerem-me uma pergunta para 2025. A seguir veremos, nem sabemos como vai ser o dia de amanhã.” Pois não, mas não se atrevessem à sua frente.

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