Ministério Público recebeu lista com sete padres suspeitos de abuso sexual de menores

O primeiro relatório da comissão independente que está a estudar os casos de abuso sexual cometidos no seio da Igreja ficará pronto em Dezembro. Divulgação será feita em meados de Janeiro de 2023.

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Patriarcado de Lisboa enviou a lista de suspeitos para o Ministério Público Miguel Manso

Uma lista de sete padres da região de Lisboa suspeitos de terem cometido crimes de abuso sexual de menores foi enviada para o Ministério Público por iniciativa do Patriarcado de Lisboa. Os casos terão ocorrido há várias décadas: quatro haviam sido já tornados públicos, dois referem-se a sacerdotes já falecidos e o restante prende-se com um padre que deixou, entretanto, de exercer o ministério, segundo precisou fonte do gabinete de comunicação do cardeal-patriarca, D. Manuel Clemente, ao jornal Expresso.

Estes sete sacerdotes integram um rol mais vasto de 12, alguns dos quais ainda no activo, cujos nomes haviam sido denunciados em Agosto à comissão independente incumbida de fazer um levantamento dos abusos sexuais perpetrados na esfera da Igreja nos últimos cinquenta anos. Na altura, o autor das denúncias, um padre no activo que tem permanecido no anonimato, disponibilizara-se para partilhar todas as informações tidas como necessárias ao apuramento dos factos.

Além de ter sido remetido às autoridades civis, o documento que elenca os suspeitos está igualmente a ser analisado pela comissão liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e que foi incumbida de, até ao final do ano, fazer um levantamento dos abusos cometidos no seio da Igreja nos últimos cinquenta anos.

De acordo com o último balanço, divulgado no início deste mês, a comissão independente já recebeu mais de 400 denúncias que envolvem cerca de 100 padres no activo. Destes, pelo menos 17 foram enviados para o Ministério Público, ao qual caberá analisar agora se os supostos crimes já prescreveram ou se, pelo contrário, ainda poderá haver lugar a alguma acusação.

Relatório em Dezembro

Ontem, os membros da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal foram ouvidos pelo Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), em Fátima. No comunicado divulgado esta manhã, a CEP precisou que o encontro, que incluiu também membros do Grupo de Investigação Histórica sobre os arquivos das dioceses e das congregações religiosas, visou avaliar “o estado actual do processo de estudo sobre os abusos de crianças na Igreja Católica”.

Cumprindo o calendário estabelecido, o organismo liderado por Pedro Strecht reiterou que o primeiro relatório ficará concluído em finais de Dezembro, prevendo-se a sua divulgação pública para meados de Janeiro de 2023.

A dificuldade maior do grupo independente prender-se-á com o acesso aos arquivos diocesanos. Em Junho, e na sequência do pedido feito pelo presidente da CEP, D. José Ornelas, no sentido de garantir do grupo liderado por Strecht aos arquivos eclesiásticos, incluindo os arquivos secretos e reservados das diferentes dioceses, onde jaz a documentação relativa a estes crimes, o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, lembrou que, tendo o segredo pontifício das denúncias sido eliminado em Dezembro de 2019, por determinação do Papa Francisco, os autores dos abusos continuam, porém, protegidos pelo “segredo de ofício”, isto é, corresponde a cada bispo a decisão de autorizar e supervisionar “a consulta da documentação conservada nos arquivos eclesiásticos, mesmo secretos”.

Esta consulta, enfatizou então o responsável do Vaticano, não poderá hipotecar a salvaguarda adequada da “privacidade e boa fama das pessoas envolvidas”. Neste mesmo sentido, D. José Ornelas também já avisou que “não é para colocar tudo em praça pública”, sob pena de a Igreja arriscar “criar outras injustiças, para defender as vítimas ou hipotéticos perturbadores”.

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